Especialista da Unicamp fala sobre enfraquecimento sindical, informalidade e desafios para a mobilização
Na manhã desta segunda-feira (7), o auditório do Sindicato dos Químicos do ABC recebeu o Prof. Dr. José Dari Krein (Unicamp/CESIT) para uma palestra, seguida de debate, sobre os impactos da Reforma Trabalhista e o enfraquecimento da negociação coletiva.
Segundo Krein, a reforma aprofundou a precarização: aumentou a informalidade, enfraqueceu os sindicatos e não gerou os empregos prometidos.
O professor também falou sobre a crise do movimento sindical, que hoje enfrenta baixos níveis de confiança, perda de espaço nas grandes empresas e dificuldades para mobilizar a base.
Reestruturação produtiva e perda de base nas grandes indústrias
Ele destacou que, nos últimos 40 anos, os sindicatos foram perdendo espaço com a terceirização, a reestruturação produtiva e o enxugamento de quadros nas grandes empresas, citando como exemplo o caso da Volkswagen, que tinha 80 mil trabalhadores na década de 1980 e hoje tem 5 mil.
“A própria indústria se transformou nesse período, e as grandes empresas eliminaram cerca de quatro milhões de empregos”, disse.
O discurso do empreendedorismo e a crítica a precarização
O professor também observou que, hoje, uma das questões fundamentais do mundo do trabalho, que está muito precarizado, é que as ocupações atuais já não permitem mobilidade social.
“No ambiente neoliberal, criou-se a ideia do empreendedorismo e de que o sucesso depende somente do esforço individual — basta se esforçar para se dar bem — e isso conquistou corações e mentes, especialmente dos jovens.”
Ele mencionou ainda a crítica recorrente à CLT nas redes sociais. Os empregos formais, precarizados, com baixa remuneração e jornadas pesadas, já não despertam o interesse da maioria. Isso ajuda a explicar o recorde de pedidos de demissão no país em 2024 e o surgimento de movimentos como o antitrampo.
“Quando as pessoas criticam esse modelo, estão fazendo uma denúncia. E onde há denúncia, pode nascer a ação coletiva”, afirmou.
Redução da jornada, fim do 6×1 e bandeiras concretas
Krein defende que os sindicatos se engajem na mobilização por bandeiras concretas, que toquem diretamente a vida das pessoas, como a redução da jornada de trabalho e o fim da escala 6×1.
“Historicamente, quando a gente estuda o movimento dos trabalhadores, a gente sabe que não tem fórmula pronta. São tentativas, acertos e erros que vão acumulando forças até que, em determinados momentos, se tem força para avançar — pois vivemos numa sociedade marcada pela luta de classes”, afirmou.
E finalizou:
“Precisamos então de ousadia, apostar na formação, no debate coletivo e inovar nossas práticas. Acho que todos nós estamos aqui porque acreditamos que é possível virar o jogo: a luta pela transformação social continua e a história não acabou”.
Participação de sindicalistas e alerta de Vicentinho
Além da diretoria do Sindicato, a atividade contou com a presença de dirigentes sindicais da região, militantes e do deputado federal Vicentinho (PT-SP), que alertou:
“Temos hoje uma maioria no Congresso que é contra o fim da jornada 6×1 e contra a justiça tributária de isentar os mais pobres e começar a tributar os mais ricos”.