No Dia da Consciência Negra deste ano a pauta é FORA BOLSONARO
No sábado 20/11 será celebrada em centenas de cidades pelo Brasil a Consciência Negra, um feriado que ainda não tem abrangência nacional, por isso cada estado ou cidade precisa aprovar uma lei regulamentando a data. No Grande ABC, é feriado em todas as sete cidades.
O 20 de novembro marca a necessária conscientização de toda a população sobre a história de sofrimento, força e resistência do povo negro no Brasil desde a colonização, e do reconhecimento do valor e da luta de pessoas pretas que não se calaram e ainda hoje não se calam e levantam a cabeça contra o racismo em todas as suas faces.
Um dia de protesto contra a gritante desigualdade social brasileira e a necessidade urgente de corrigir essa distorção para que a sociedade possa evoluir. No Brasil, a maioria populacional é negra e representa, hoje, 56% da população (IBGE, 2020).
A data também é um marco para celebrar a cultura africana e seus impactos na nossa cultura em vários aspectos: dança, música, religião, culinária e idioma.
Dia de Mobilização Nacional pelo Fora Bolsonaro
Neste ano, a luta pelo impeachment de Bolsonaro unifica os mais profundos anseios do movimento negro e o 20 de novembro será um dia de mobilização nacional. O tema da tradicional Marcha da Consciência Negra será Fora Bolsonaro Racista, chamando a atenção da população para a responsabilidade de Bolsonaro e seu governo, que, com sua política racista, mata o povo negro com a violência, com a Covid-19, com a fome, a carestia e o desemprego.
A população negra brasileira é a mais afetada pelas altas taxas de mortalidade por Covid-19. Um dos dados do relatório final da CPI da Covid do Senado, levantado pelo Instituto Polis, mostra que a taxa de mortalidade por Covid-19 entre homens negros era de 250 por 100 mil habitantes enquanto a de brancos era de 157 óbitos por 100 mil habitantes.
Um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), organização que reúne 38 países, entre eles o Brasil, também mostra que em nosso país, o risco de morte por Covid é 50% maior para a população negra.
Racismo estrutural
Os três séculos de escravidão no Brasil, situação que só teve fim por conta da resistência dos negros escravizados, deixaram marcas profundas de desigualdade em todas as estruturas de poder no Brasil. Disparidade que orienta até os dias de hoje as relações econômicas, sociais, culturais e institucionais do país.
No pós-abolição, em 1888, pessoas negras não tiveram acesso à terra, indenização ou reparo por tanto tempo de trabalho forçado. Muitos permaneceram nas fazendas em que trabalhavam em serviço pesado e informal. Foi a partir daí que se instalou a exclusão de pessoas negras dentro das instituições, na política, e em todos os espaços de poder.
As questões centrais que mantém esse processo longo de desigualdade entre brancos e negros se desdobram no genocídio de pessoas negras, no encarceramento em massa, na pobreza e na violência contra mulheres.
Não existe justiça climática sem justiça racial e antirracismo
No início de novembro, o movimento negro brasileiro lançou a carta “Para controle do aquecimento do planeta – desmatamento zero: titular as terras quilombolas é desmatamento zero”.
Na carta, mais de 200 organizações defendem uma incidência direta contra o racismo ambiental, pela redução do aquecimento do planeta, desmatamento zero nas florestas Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica e Caatinga brasileira e em defesa da titulação das terras e dos territórios quilombolas também como estratégias pelo desmatamento zero.
Essas organizações entendem que “a crise climática é também humanitária” e tem impacto direto na vida das populações negras, quilombolas e dos povos indígenas. Por isso é fundamental luta constante contra o genocídio da população negra, seja na cidade ou no campo, a defesa da terra, dos territórios e das territorialidades negras como espaços de vida ambiental e humana.
“É urgente considerar outros modelos de desenvolvimento, outras formas de bem viver em sociedade (lema político da Marcha das Mulheres Negras) que reconectem as relações humanas e sua constituição como parte da natureza. É necessário considerar os conhecimentos dos povos em sua natureza no Sul Global, em especial as diferentes vozes das mulheres, vozes da juventude, das quilombolas, das indígenas e das populações negras diaspóricas periféricas”, destaca o documento, que afirma com todas as letras: “O racismo ambiental afeta e viola os direitos daqueles que menos contribuíram para a crise climática e humanitária!”.
O documento na íntegra pode ser lido no site Coalizão Negra por Direitos.