Carlos Alberto Itaparica, Secretário Geral da Confederação Nacional do Ramo Químico CNQ-CUT
Curriculo, aborda compra do Grupo Ipiranga
A aquisição do grupo Ipiranga (IPQ) por um consórcio formado pelas empresas Braskem, Petrobrás e Ultra, está preocupando muito o movimento sindical do ramo quÃmico/petroleiro. A transação, feita praticamente à s escondidas, pode trazer conseqüências gravÃssimas para trabalhadores, sociedade e à s outras empresas petroquÃmicas e plásticas, em geral. A Braskem/Odebrecht está se expandindo e monopolizando a produção de petroquÃmicos. Ficará responsável por mais de 70% da produção nacional de eteno. Isso, certamente, vai dificultar novos investimentos no pólo do Sul, porque a oferta de matéria-prima dependerá exclusivamente da Braskem. O grupo vai controlar os dois maiores pólos petroquÃmicos do Brasil ( Copesul e Camaçari).
Em razão desse novo desenho na produção de eteno, outros grupos que pretendam investir na produção de resinas termoplásticas no PaÃs teriam de optar por plantas à base de gás natural, para garantir acesso a volume suficiente de matéria-prima. Hoje, em Camaçari (BA), já existe essa limitação. Na verdade, agora há dificuldade de ampliação nos pólos em torno das três centrais (Camaçari, Mauá e Triunfo). Outro ponto a ser destacado também diz respeito a concentração, desta vez no segmento de resinas.
Após assumir 60% da Ipiranga PetroquÃmica (IPQ), a Braskem passa a responder por, em média, 67% do mercado de termoplásticos, com destaque para o polietileno de alta densidade (aproximadamente 80%). Embora as produtoras de resina aleguem que os preços são formados no mercado internacional, para muitas empresas da terceira geração (transformadores) é difÃcil importar matéria-prima, o que faz com que se sujeitem aos valores pedidos internamente.
Concentração e demissões
Aqui vale ressaltar que desde que o grupo Odebrecht/Braskem entrou na petroquÃmica baiana, várias empresas fecharam e o pólo de Camaçari estagnou, pois o grupo Odebrecht controla as principais matérias primas do pólo. Embora o setor petroquÃmico brasileiro esteja crescendo, a Braskem, que se diz uma empresa baiana, não investe na Bahia há anos. No caso dos trabalhadores, a preocupação é com as demissões que possam vir a acontecer e também com a grande concentração de matéria prima. A situação é grave. Quando a Odebrecht assumiu o controle da Copene, em 2002, e foi criada a Braskem, houve muitas demissões. E hoje, a Braskem mantém uma relação difÃcil com seus funcionários, desrespeitando inclusive direitos trabalhistas.
O movimento sindical estranha também o comportamento da Petrobrás. Os trabalhadores defendem o retorno da Petrobras à petroquÃmica. O que não dá é para a Petrobrás retornar ao setor petroquÃmico, em opção minoritária, sem poder de decisão e escolhendo como sócia, em um momento como este, uma empresa como a Braskem, que tem atitudes anti-sindicais e dificulta muito a relação trabalhista. E, ainda por cima, contribuir com o fortalecimento do monopólio privado das resinas termoplásticas. A Petrobrás pode impulsionar e diversificar a produção de petroquÃmicos, contribuindo para a integração da cadeia produtiva. Como uma empresa pública, no entanto, deve ir além da mera busca de rentabilidade, somando esforços para a consecução de uma polÃtica industrial capaz de contribuir para a melhoria da qualidade de vida do brasileiro. Enfim, não adianta a Petrobrás entrar apenas como acionista. à preciso buscar participação efetiva na gestão.
O movimento sindical tem propostas para o setor e queremos discuti-las.