Depois de quatro anos de desgoverno Bolsonaro, os desafios para combater o racismo estrutural na sociedade brasileira só aumentaram. As desigualdades, também.
Estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgado no dia 11/11 revela como a cor é um fator relevante quando o assunto é diferenciação salarial.
De acordo com o estudo, trabalhadores brancos ganham R$ 3.099 em média, enquanto os trabalhadores pretos recebem R$ 1.764 e os trabalhadores pardos, R$ 1.814,00.
Ou seja, trabalhadores brancos têm salários 75,7% e 70,8%, respectivamente, superiores a pretos e pardos.
Mesmo entre pessoas com nível superior completo, persiste uma diferença significativa. Nesse grupo, o rendimento médio por hora dos brancos foi cerca de 50% maior que o dos pretos e cerca de 40% superior ao dos pardos.
Cargos gerenciais também apresentam diferenças. Embora a maioria dos trabalhadores brasileiros sejam pretos e pardos, apenas 29,5% destes estão em cargos gerenciais.
Pretos e pardos e o desemprego
Os brancos também têm sido menos afetados pelo desemprego. A taxa de desocupação em 2021 para eles é de 11,3%. Entre a população preta é de 16,5% e para a população parda, de 16,2%.
Os dados revelam ainda diferenças na informalidade: apenas os brancos se situam abaixo do índice nacional de 40,1%.
Segundo o IBGE, “a informalidade no mercado de trabalho está associada, muitas vezes, ao trabalho precário e à ausência de proteção social”.
Ela envolve trabalhadores que podem enfrentar dificuldades para acesso a direitos básicos, como a aposentadoria e a garantia de remuneração igual ou superior ao salário-mínimo.
Pobreza
A proporção de pessoas pobres no país também é bastante distinta no recorte por cor.
Entre os brancos, 18,6% estão abaixo da linha da pobreza, isto é, vivem com menos de US$ 5,50 por dia conforme uma das classificações do Banco Mundial.
O percentual praticamente dobra entre pretos (34,5%) e pardos (38,4%).
Outros indicadores
O estudo traz ainda informações atualizadas sobre patrimônio, educação, violência, representação política e ambiente político dos municípios.
De acordo com o IBGE, há um acesso desigual dos diferentes grupos populacionais a bens e serviços básicos necessários ao bem-estar, como saúde, ensino, moradia, trabalho e renda.
Foi constatado que nos domicílios de pessoas brancas há maior presença de praticamente todos os bens duráveis analisados: geladeira, televisão, máquina de lavar, forno, micro-ondas, automóvel, computador, ar-condicionado, tablet e freezer.
A única exceção foram as motocicletas, que aparecem com maior frequência em domicílios de pessoas pardas.
No campo, entre os proprietários de terras com mais de 10 mil hectares, 79,1% se declaram brancos, 17,4% pardos e apenas 1,6% eram pretos.
Violência
O estudo também apresenta um recorte das vítimas de homicídio no país em 2020. Entre as pessoas pardas, registra-se a maior taxa, com 34,1 mortes por 100 mil.
Na população preta, esse índice é de 21,9 mortes, enquanto entre os brancos é de 11,5.
Na educação superior, o IBGE encontrou diferentes realidades conforme o curso. Na pedagogia, por exemplo, pretos e pardos representavam 47,8% dos alunos matriculados em 2020.
Na enfermagem, eles eram 43,7%. Por outro lado, no curso de medicina, representavam apenas 25%.
Dados de representação política nas eleições municipais de 2020 também foram incluídos no levantamento.
Entre os candidatos a prefeito que realizaram campanhas com arrecadação superior a R$ 1 milhão, 67,5% são brancos.
O estudo
Intitulado Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, o estudo faz um cruzamento de dados extraídos de mais 12 pesquisas do próprio IBGE.
Ele está em sua segunda edição. A primeira, divulgada em 2019, foi mais enxuta: indicadores sobre mercado de trabalho e distribuição de rendimento, por exemplo, não integraram o levantamento.
De acordo com o IBGE, “as desigualdades raciais são importantes vetores de análise das desigualdades sociais no Brasil, ao revelar no tempo e no espaço a maior vulnerabilidade socioeconômica das populações de cor ou raça preta, parda e indígena”.
FONTE: AGÊNCIA BRASIL