Encerrando Conferência com estudantes, ex-presidente pede aos jovens que não neguem a política, nem os partidos: “Que criem outros. Ao invés de negar a política, entre você na política”, disse
Encerrando a Conferência Nacional “2003 – 2013: uma nova política externa”, promovida de 15 a 18 de julho pela Universidade Federal do ABC (UFABC), o ex-presidente Lula fez um discurso em tom descontraído, de quase duas horas de duração, abordando muitos assuntos.
Além de analisar as transformações do nosso país no contexto mundial e a política externa do seu governo, tema central da atividade, Lula respondeu a perguntas dos estudantes e falou sobre os protestos populares de junho, sobre a ajuda aos países africanos; condenou a espionagem e cobrou pedido de desculpas do EUA; e também desmentiu os boatos que correm soltos pela Internet sobre sua saúde.
“Existem boatos de que estou com metástase, de que vou escondido fazer tratamento. Se eu tivesse jamais esconderia. Graças a Deus não tenho mais câncer, tenho que fazer meus exames de rotina e não é correto que algum canalha, imbecil fique pela internet contando essas mentiras”, afirmou para os estudantes da Universidade Federal do ABC, em São Bernardo, na Grande São Paulo
“Vou fazer exames e se eu tiver (câncer) vou ser o primeiro a falar”, acrescentou. “Graças a Deus eu não tenho mais câncer (…) Tenho que fazer exames de controle de quatro em quatro meses durante cinco anos”, contou, lembrando que o próximo será feito em agosto e que se tivesse alguma coisa, “jamais esconderia”.
Política externa
O ex-presidente destacou três aspectos principais da política externa do seu governo: o combate à fome, o estreitamento das relações entre Brasil, América Latina e África, e a luta pela construção de uma governança global.
“Uma das coisas que me orgulho na nossa política externa é ter conseguido colocar a questão da fome como central (…) Eles queriam falar de comércio internacional e eu querendo debater a questão da fome”, afirmou aos jovens estudantes. Ele também destacou a aproximação do nosso país com a África e a América Latina: “Queremos ter relação com os Estados Unidos, o que não podemos é nos tornar dependentes. Por isso nos voltamos para a América Latina”. Lembrou, ainda, do grande aumento da presença de empresas brasileiras nos países latino-americanos a partir do seu governo.
Já sobre a África, o ex-presidente foi categórico: “Nós não podemos pagar nossa dívida com a África em dinheiro, mas podemos pagar com solidariedade”. Durante seu governo, cerca de 19 novas embaixadas brasileiras foram criadas na África e o comércio entre o Brasil e os países do continente saltou de US$ 5bi para US$26 bi. O ex-presidente também defendeu a entrada do nosso país e de outros no Conselho de Segurança da ONU.
Ele também alertou para a urgência de contarmos com uma governança global eficiente, ainda mais em tempos de crise como o nosso – “Quem vai ajudar a regular o sistema financeiro hoje?”, questionou – onde a ONU não tem forças e não mais representa a atual correlação de forças mundiais. Já sobre o reconhecimento mundial do nosso país hoje, o ex-presidente Lula considerou que “a verdade é que nós não éramos levados a sério. Mas porque nós não nos respeitávamos. Uma parte dirigente deste país tinha complexo de vira-lata”.
Protestos
Lula criticou o “oportunismo” da oposição diante das manifestações que tomaram as ruas do Brasil. O ex-presidente lembrou que partidos como o PSDB foram os responsáveis por tirar R$ 350 bilhões em investimento em Saúde – uma das reivindicações dos protestantes- quanto extinguiram a CPFM (Comissão Provisória sobre Movimentação Financeira).
“Eu vi todas as bandeiras (reivindicações) e não tem nenhuma que eu não tenha levantado. É importante lembrar que alguns políticos que agora estão na oposição, no meio do meu mandato aprovaram o fim da CPMF. Se contabilizar os quatro anos do meu governo, mais dois da Dilma deixamos de investir R$ 350 bilhões na saúde”, lembrou Lula.
O CPMF foi extinto em 2007 e o recurso recolhido com imposto era obrigatoriamente investido em saúde e previdência social. Na época, Lula lembrou que a oposição derrubou o imposto porque sabia que o governo federal lançaria o programa “Mais Saúde”.
Em seu discurso, Lula comparou as manifestações do Brasil com as realizadas da Europa e vê de maneira positiva que as reivindicações aqui são por melhoras de serviços e ainda destacou que de “protesto em protesto, vai consertando o telhado”.
“Os extremos se encontram. Nos países ricos da Europa, os jovens protestam para não perder os direitos já conquistados. Aqui, a luta da juventude é para melhorar, para avançar na garantia de direitos”, disse o ex-presidente.
Como um desabafo, Lula pediu aos jovens para não se desanimar com a política e lembrou a importância da política e partidos. “Quando vocês estiverem putos da vida, não gosto do Lula, não gosto da Dilma, não gosto do Luiz Marinho, não gosto não sei de quem, ainda assim, não neguem a política. E muito menos neguem os partidos. Vocês podem fazer outros. Em vez de negar a política, entre você na política. É dentro de cada um de vocês que está o político perfeito que vocês querem”.
A atividade foi realizada pela UFABC, por meio do Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais, e contou com a parceria da Prefeitura de São Bernardo do Campo, Fundação Perseu Abramo, Fundação Maurício Grabois; TVT; Fundação Friedrich Ebert Stiftung; CUT, Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e do Sindicato dos Químicos do ABC.
Com informações do ABCD Maior, Rede Brasil Atual e Blog do Zé
Foto: Ricardo Stucker – Instituto Lula