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O desafio de construir um novo modelo de desenvolvimento

27/02/2014 às 21h17

Segundo dia do Seminário Internacional trata da estratégia do desenvolvimento sustentável nas ações sindicais

Que planeta vamos deixar para as futuras gerações se continuarmos com o atual padrão de desenvolvimento? Que indústria química queremos: a que polui, adoece, desrespeita direitos e deixa rastros de contaminações e desemprego ou a que respeita e negocia com os trabalhadores e suas representações sindicais, que dialoga com a sociedade, que respeita e protege o meio ambiente?

Essas e outras questões foram discutidas no segundo e último dia de trabalhos do Seminário Internacional Estratégia Sindical Comparada sobre Desenvolvimento Sustentável, promovido pelo Sindicato dos Químicos do ABC em parceria com a Federação de Química e Energia da Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT-CE).

A quinta-feira começou com apresentações do presidente Paulo Lage e do sindicalista francês Dominique Bousquenaud sobre a visão do conceito sobre desenvolvimento sustentável das duas entidades.

Paulo Lage apresentou um breve histórico das ações do Sindicato relacionadas aos temas do desenvolvimento sustentável, como a entrega de propostas dos trabalhadores do Grande ABC aos candidatos a prefeito, a realização da Conferência Internacional “A indústria Química em 2020: outro rumo é possível”, em 2011, e a realização do 11º Congresso dos Químicos do ABC, em 2013, que teve como tema central “Compromisso com um futuro sustentável: visão e papel dos trabalhadores”.

Paulo elencou ainda os principais problemas que os trabalhadores químicos do ABC enfrentam hoje, como a alta rotatividade, terceirização, horas extras excessivas, ritmo intenso de trabalho e ausência de diálogo no local de trabalho, com chefias despreparadas e autoritárias.

França: desemprego e ausência de crescimento

O representante da CFDT-CE contou que as ações relacionadas às estratégias do desenvolvimento sustentável vêm de uma prática que teve início em 1997, quando houve a fusão da federação dos trabalhadores da química com a da energia, criando a CFDT-CE. “Que planeta vamos deixar para as futuras gerações se continuarmos com o atual padrão de desenvolvimento? Sabemos que precisamos de um novo modelo, baseado na sustentabilidade, mas sabemos também que fazer o progresso econômico se tornar desenvolvimento social para todos é um imenso desafio”, pontuou Dominique.

A França sofre hoje com as conseqüências da crise financeira, econômica e social que atingiu fortemente os países da Europa. “Temos 10,9% da população economicamente ativa desempregada, não temos crescimento econômico há vários anos e o endividamento do nosso país está próximo a 80% do PIB. Como enfrentamos essas questões: com a criação de comitês estratégicos por setor econômico, que são fóruns de reflexão que reúnem governo, empresários e trabalhadores para pensar o futuro da nossa indústria. Isso é inédito na França”, conta.

Ao final de sua apresentação, Dominique apresentou a proposta da CFDT-CE para a construção de um novo modelo de desenvolvimento: economia de baixo carbono; economia circular com a reutilização dos produtos para economizar recursos; economia da funcionalidade para poupar bens e também economizar recursos; ter uma química sustentável; e diálogo social como pilar fundamental para a construção desse novo modelo.

Sobre como enfrentar o desemprego, Dominique apontou como ação concreta o Acordo Nacional Interprofissional para a Segurança no Trabalho, que está para se tornar lei e que busca dar às empresas meios de se antecipar ao futuro e no lugar de demitir, encontrarem formas para manter os postos de trabalho.   

Matriz Energética

Na parte da tarde, a discussões girou em torno das matrizes energéticas usadas nos dois países, e a apresentação do coordenador da Rede Guarani/Serra Geral, Luiz Fernando Scheibe, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) sobre “A exploração do Gás de Xisto como ameaça aos recursos hídricos no Brasil”.

Domenique explicou que a França passa hoje por uma transição energética para matrizes diversificadas com o desenvolvimento de energias renováveis. No país, a produção de energia está dividida da seguinte forma (dados de 2012): 46% da energia vem do petróleo, 22% da eletricidade, 20% do gás natural e 20% das chamadas energias renováveis (dejetos 8% e o carvão 3%).

Já a produção de eletricidade é obtida 74,8% da energia nuclear, 11,8% da emergia hidráulica, 8,8% da energia térmica clássica (carvão, diesel e gás), e 4% de energia renováveis.

“Nós, da CFDT, estamos a favor do mix energético e a favor do desenvolvimento de energias renováveis. É importante ter esse mix para responder as necessidades da França e conseguir atingir a meta de reduzir a energia nuclear em até 60% em 2030”, afirma o sindicalista Francês.

Gás de Xisto

A apresentação do Prof. Scheibe tratou do método de exploração do gás de Xisto, que é extremamente agressivo do ponto de vista ambiental e dos riscos de contaminação das águas subterrâneas.

“Precisamos de 10 milhões de litros de água para fazer um poço para extração do gás de Xisto. O problema não é a água que entra, mas sim a água que sai. Ela vem contendo o gás natural, o CO2 , sulfeto de hidrogênio, mercúrio, chumbo e até material radioativo em forma de gás, que logo se dispersa e perde a radioatividade, mas atinge diretamente os trabalhadores do poço. O que fazer com essa água é um dos grandes problemas que essa extração apresenta”, afirma Scheibe.

Para o professor, a maior preocupação da extração do gás de Xisto no Brasil está relacionada com o fato das camadas em que se encontra o Xisto estarem próximas dos nossos aqüíferos. “A exploração pode fazer com que as fraturas existentes nessas camadas se abram e que os materiais dessas rochas penetrem nos aquíferos, contaminando a água”.