Livro de Renato Meirelles e Celso Athayde compila pesquisas em comunidades onde vivem 12 milhões de pessoas. Um ambiente de gente que batalha, é solidária e protagonista de mudanças, diz o cientista político, Paulo Vannuchi
Reportagem Redação RBA
Um mercado consumidor maior que os de Paraguai e Bolívia somados. Uma população de 12 milhões de pessoas que, se fosse um estado, seria maior que o Rio Grande do Sul. E um lugar onde 94% dos pesquisados se declaram felizes e de onde dois em cada três moradores não se mudaria mesmo que sua renda mensal duplicasse. Assim é o ambiente das favelas brasileiras revelado no livro Um País Chamado Favela, de Renato Meirelles e Celso Athayde, que tem lançamentos hoje (7) em São Paulo e na próxima quinta-feira no Rio.
Meirelles é diretor do instituto Data Popular, especializado em pesquisas junto a famílias de baixa renda. Athayde é fundador, no final dos anos 1990, da Central Única de Favelas (Cufa), ao lado do rapper MV Bill. E o livro é baseado no levantamento Radiografia das Favelas Brasileiras, realizado em setembro do ano passado com 2 mil moradores de 63 favelas brasileiras, espalhadas por 10 Estados.
Segundo Meirelles, o trabalho desmonta “preconceitos do asfalto” em relação a essas comunidades, tidas, por desinformação, como lugar de violência, pobreza e bandidagem. O pesquisador destaca que há dez apenas um terço das populações das favelas era integrante da chamada classe C de renda, e hoje são dois terços, por se tratar de um dos ambientes que mais se beneficiaram do crescimento dos empregos e da renda no país, compondo um mercado que consumirá R$ 64 bilhões somente neste ano.
O cientista político Paulo Vannuchi lembra em seu comentário de hoje na Rádio Brasil Atual que MV Bill e Celso Athayde produziram na década passada o documentário Falcão, Meninos do Tráfico, que os levou a ser chamados para uma reunião com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e vários ministros da área econômica e social, ele próprio incluído (Vannuchi foi ministro da Secretaria de Direitos Humanos). Segundo ele, Lula queria extrair subsídios dos fundadores da Cufa para a elaboração de políticas públicas que tornassem possível ‘disputar’ as expectativas das crianças vulneráveis ao crime organizado e ao narcotráfico. A esse fator ele atribui o fato de que 75% dos entrevistados no levantamento consideram que a vida melhorou nos últimos anos.
“O trabalho reunido nesse livro revela uma classe trabalhadora que constrói o Brasil”, diz Vannucchi. Para o analista, quando 66% das pessoas respondem que não pretendem se mudar de sua comunidade mesmo se tivesse o dobro do poder aquisitivo é por encontram ali diversos fatores que associam a qualidade de vida. “São pessoas que precisam apenas de pequenos deslocamentos para fazer as coisa que precisam em seu dia a dia. É gente que se ajuda. Mais da metade dos entrevistados já emprestou seu cartão de crédito para um vizinho quando precisou, geralmente para um amigo que por sua, vez ajudou a tomar conta do filho do outro. São sentimentos de ajuda mútua que começam a desaparecer à medida que a pessoa vai ficando mais rica e individualista”, observa.
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