O motivo não é somente a pandemia, mas ausência de políticas pública e numa situação de desmonte, a crise recai sobre os ombros de quem ganha menos, afirma economista do Dieese
Entre o início de 2021 e o mesmo período em 2019 , dois primeiros anos da gestão Bolsonaro, o preço da cesta básica de alimentos subiu 32,56%, na capital de São Paulo. Em 2003, apesar de ter encontrado o país endividado e com uma inflação de 12,53%, Lula conseguiu derrubar o índice para 7,60% e a cesta básica subiu em dois anos de seu governo 8,49% . Com Dilma, aconteceu o mesmo. Nos seus dois primeiros anos de mandato, a cesta subiu 18,02%, índices bem abaixo do atual governo.
Levantamento feito pelo UOL, com o salário mínimo atual de R$ 1.100, o brasileiro gasta, em média, mais da metade (54,23%) do salário líquido para comprar a cesta básica. Na cidade de São Paulo, que detém o segundo maior preço pelo conjunto de produtos, o percentual de comprometimento da renda chega a 62,85%.
O motivo da carestia: desmonte das políticas públicas
A supervisora da área de preços do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que analisa o Índice de Custo de Vida (IVC), Patrícia Costa, explica que a elevação dos preços sentida pela população pobre não pode ser apenas creditada à pandemia do novo coronavírus, mas também ao desmonte das políticas públicas e os privilégios concedidos ao agronegócio.
Nos governos anteriores, diz, havia políticas públicas responsáveis pela abertura de vagas de trabalho e, consequentemente, houve aumento do consumo da população e da inflação, mas ainda assim o poder de compra do trabalhador era preservado.
”O que chama a atenção no atual aumento de preços e na queda do poder de compra da população, é que são resultados do desmonte explícito de políticas públicas, que garantiam preços acessíveis dos alimentos e reajustes salariais acima da inflação para o trabalhador. Hoje o interesse é o lucro do agronegócio”, diz Patrícia.
Ainda de acordo com a supervisora do Dieese, antes, pelo menos, havia esperança e a possibilidade do governo fazer ações de desenvolvimento e inclusão, o que não ocorre agora.
“Numa situação de desmonte, a crise recai sobre os ombros de quem ganha menos”, afirma.
Inflação pesa mais para as famílias pobres
Desde o início da pandemia, em março do ano passado até fevereiro deste ano, a inflação sentida pelas famílias brasileiras mais pobres foi de 6,75%. Essa taxa representa o dobro do impacto para as famílias mais ricas, de 3,43% no mesmo período, segundo os dados do indicador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) de inflação por faixa de renda.
O vilão da inflação maior para essas famílias, que ganham menos do que R$ 1.650,50, são os preços dos alimentos que consomem em média 25% do seu orçamento. Já os mais ricos, com renda superior a R$ 16.509,66 gastam menos de 10% dos seus orçamentos na compra da alimentação.
*Com informações do UOL e G1 e portal da CUT