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Quando o assunto é violência doméstica, todos precisam de um olhar, defende Renata Gruppi

03/08/2020 às 19h19

Especializada em violência familiar, Renata participou nesta segunda de um debate via Zoom, promovido pela Comissão de Mulheres Químicas do ABC

Você sabia que:

– No Brasil, a cada dois segundos, uma mulher sofre por um tipo de violência?

– Que em numero de casos de violência contra a mulher nosso país só está atrás de El Salvador, Guatemala e Rússia (país em que a legislação por agressão à mulher é muito branda)?

– Que presenciar um ato de violência contra a mulher e não denunciar é ser coautor desse ato?

– Que durante a pandemia aumentaram muito os casos de violência sexual contra crianças e o feminicídio no Brasil?

Essas e outras importantes informações sobre o tema “combate à violência contra a mulher” estiveram presentes no rico debate promovido pela Comissão de Mulheres Químicas do ABC com Renata Gruppi (foto) na manhã desta segunda-feira, 3 de agosto, pela plataforma Zoom de videoconferências.

Renata Gruppi, especialista em violência doméstica e familiar, foi a delegada responsável pela instalação “Homem Sim Consciente Também” em Diadema, um programa pioneiro que busca reduzir os números de casos de violência doméstica por meio do diálogo com os membros da família, visando romper o ciclo de violência.

“O homem com perfil agressor não nasceu agressor, se tornou agressor. Antes de tudo é preciso entender a família. Na situação de violência contra a mulher e violência na família, todos precisam de um olhar. Sem condição econômica, sem diálogo, sem exemplos aos filhos, tudo isso refletirá na sociedade. As crianças repetem os padrões da família: quando ela está vivendo violência, repetirá essa violência”, ressaltou Renata.

“No programa ‘Homem Sim Consciente Também’, o homem com perfil violento vai por vontade própria para mudar seu modo de pensar, se autoconhecer, abandonar aquele pensamento de ‘o que outros vão pensar de mim’. Essa cultura de que a mulher tem que ser submissa e vulnerável tem que ser quebrada”, explica.

Sobre o que fazer quando presenciamos um ato de violência contra a mulher, Renata observa que se presenciarmos e não tomarmos nenhuma atitude, estaremos sendo coautores dessa violência, “Mas não há necessidade de expor sua vida em risco”, enfatiza,“não há necessidade de intervenção direta, mas pode chamar o 190, ou entrar em contato com o 180, filmar, documentar. Existe um aplicativo, o Direitos humanos BR, em que é possível anexar imagens e documentos denunciando os atos de violência”, afirma a palestrante.

Violência aumentou na quarentena

Neste momento de pandemia, quando homens estão mais em casa, houve um aumento grande nos casos de violência doméstica, violência contra a mulher e feminicídio. Números oficiais revelam que só em abril, as denúncias ao 180 subiram 40%. Já uma parceria entre cinco mídias independentes, que monitoram os casos durante o isolamento social, aponta que 195 mulheres foram vítimas de feminicídio no Brasil em dois meses, de acordo com dados fornecidos pelos estados.

Diante dessa situação, a Comissão de Mulheres Químicas do ABC decidiu retomar a atividade prevista para final de março que havia sido adiada por causa da quarentena, e realizar a palestra/debate com Renata Gruppi por meio virtual, direcionada à diretoria do Sindicato e estendida a um grupo misto de lideranças sindicais da região.

“É um debate que precisamos fazer com os homens, em especial com os dirigentes sindicais homens que podem nos ajudar nessa luta, serem parceiros no combate a toda e qualquer forma de violência contra as mulheres, contra jovens e crianças”, aponta Lucimar Rodrigues (foto), diretora do Sindicato e coordenadora da Comissão de Mulheres Químicas do ABC.

Renata destacou ainda que houve também um aumento considerado de casos de violência sexual contra crianças por causa da pandemia, muitas vezes protagonizados por vizinhos, tios, padrastos e até pais e mães.

Só estenda a mão e respeite

“Muitas vezes há vergonha de denunciar, por isso precisamos fortalecer a rede de proteção e apoio a mulheres e a crianças. Meu conselho é não questione, só estenda a mão. É importante que a mulher tenha confiança para romper com o ciclo de agressão”, aconselha Renata.

Outra importante recomendação dada por Renata Gruppi é em relação às crianças. “Respeite sempre quando ela diz que não quer estar ou ficar com uma pessoa, quando não quer beijar ou abraçar alguém. Respeite e observe seus medos, seu comportamento, pois isso pode ser sinal de que há algum tipo de abuso”.

Ninguém nasce agressor, ninguém nasce racista

Encerrando a atividade, o presidente do Sindicato, Raimundo Suzart (foto), destacou o excelente trabalho da Comissão de Mulheres, citando a peça de teatro que vem sendo preparada pelas companheiras sobre o tema e que teve sua estreia adiada devido ao isolamento social. “Nós somos um Sindicato cidadão, que tem compromisso com os trabalhadores e trabalhadoras, mas também com a sociedade. O debate de hoje foi muito importante, destacou que ninguém nasce agressor, assim como ninguém nasce racista. Isso tudo faz parte de um problema estrutural e ter pessoas militando como a Dra. Renata é que poderemos mudar isso”, afirmou.