Etapa deste ano do acordo de cooperação tratou do tema devido ao grande número de acidentes relacionados ao trabalho nos dois países
A quinta etapa do acordo de cooperação internacional entre o Sindicato dos Químicos do ABC e o Sindicato dos Químicos da Turquia (Petrol-is) foi realizada nesta segunda quinzena de maio na cidade do Rio de Janeiro e contou com a parceria da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas do estado do Rio de Janeiro (Fetraquim RJ).
Além da troca de informações sobre a situação política e da indústria química nos dois países, esta etapa priorizou o tema saúde e segurança no trabalho devido ao grande número de acidentes de trabalho envolvendo os trabalhadores da base do sindicato turco. Da mesma forma, a ocorrência de acidentes graves em indústrias químicas e petroquímicas do ABC, preocupa a diretoria e a militância do Sindicato. Para isso, as delegações participaram de um diálogo com os pesquisadores do Centro de Estudos em Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (CESTEH) da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Osvaldo Cruz – Fiocruz, vinculado ao Ministério da Saúde.
Brasil e Turquia: semelhanças no difícil momento político
Nas apresentações sobre a situação política de cada país, as semelhanças começaram logo a ficar evidentes. O presidente do Sindicato, Raimundo Suzart, ao explicar a complicada situação do Brasil, que sofre hoje um golpe político, jurídico e midiático patrocinado pela FIESP e que significa um grave retrocesso nos direitos sociais e trabalhistas, as lideranças turcas logo exclamaram: “Parece que estão falando da Turquia! ”.
De acordo com os relatos dos companheiros, a Turquia, que tem regime parlamentarista, desde 2002 é governado por um partido político conservador (AKP) que só tornou piores as condições de liberdade de imprensa, de organização sindical, negociação coletiva e dos direitos fundamentais naquele país.
No momento, o governo apesar de perder a maioria no Congresso nas eleições de 2015, os diferentes partidos de oposição foram incapazes de organizar uma coalização de governo e o atual primeiro ministro segue sob controle do partido AKP e “hoje temos um governo ainda mais conservador e menos democrático”.
Eles destacaram que a luta política mais importante na Turquia é hoje a defesa do sistema secular, ou seja, um sistema laico, que tenha a separação entre Estado e Religião, pois os conservadores querem reger o Estado baseado nas leia do Alcorão – livro sagrado dos Muçulmanos.
Além disso, reforçam os sindicalistas turcos, o governo conservador ataca os direitos trabalhistas, flexibilizando a legislação para os níveis de cargos mais altos da empresa. E os imigrantes tornaram-se mão de obra barata, sem registro, sem direitos e tratados muito mal pelos empregadores.
Lutar é Saúde
As delegações foram recebidas com entusiasmo pela coordenadora Katia Reis e pelos pesquisadores e pesquisadoras do Centro de Estudos em Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (CESTEH) da Fiocruz. As saudações reforçaram a necessidade da retomada da parceria do Centro com o Sindicato dos Químicos do ABC, parceria esta que foi muito forte na década de 90, nas lutas envolvendo as contaminações pelo benzeno, mercúrio e BHC, e responsável também pelos avanços na legislação sobre os acidentes químicos ampliados, a partir do trabalho conjunto realizado após a explosão na PQU em 1992.
“As lutas e ações dos trabalhadores é que impulsionam o que chamamos de campo da saúde do trabalhador. Os trabalhadores são portadores de conhecimento e essa é a primeira condição de proteção à sua saúde”, destacou o pesquisador Augusto Pina.
Mais de 18 mil mortos em acidente de trabalho
A informação que mais impactou os participantes do diálogo na Fiocruz foi o dado alarmante relatado pelos companheiros do Petrol-Is de que em 14 anos mais de 18 mil trabalhadores morreram em acidentes de trabalho na Turquia. “Um verdadeiro genocídio está acontecendo no nosso país”, alertaram os dirigentes.
Eles contam que o número de acidentes vem crescendo porque não existe uma política de saúde e segurança no trabalho, só existe algo semelhante a um Centro de Cuidados, que não atua na prevenção, mas apenas no cuidar do trabalhador após o acidente/ferimento. Contam anda que sem legislação específica a atuação do sindicato fica limitada ao local de trabalho, ao contrário do Brasil, onde os sindicatos podem interferir na elaboração e implementação das políticas públicas (de saúde, de emprego, de fiscalização etc.) por meio dos órgãos colegiados da administração pública (fóruns, conselhos, comissões etc.).
Exemplo da COMSAT
Um dos dirigentes turcos destacou como resultado dessa cooperação internacional com o Sindicato dos Químicos do ABC a criação de uma Comissão de Saúde no Petrol-Is, que desenvolve as ações formativas na área de saúde e segurança no trabalho. Além da formação sindical em saúde para os trabalhadores, o Sindicato tem um Centro Móvel (um caminhão) com aparelhos e médicos que percorre todo o país para oferecer exames básicos de saúde aos trabalhadores.
Visita à unidade PRODISA do Grupo Da Fonte
Os participantes desta quinta etapa do acordo de cooperação visitaram a fábrica do Rio de Janeiro das Indústrias Reunidas Raymundo da Fonte S.A., responsável pelo envasamento de produtos de limpeza e higiene.
As delegações foram recebidas pelo gerente Fernando Martins Ferreira e a visita para conhecer o processo produtivo foi dirigida pelo supervisor de produção Sergio Moreira Oliveira e pela técnica de segurança Isabel Cristina Ferreira da Silva. A fábrica, localizada na Baixada Fluminense, possui cerca de 150 trabalhadores dos 2.500 que integram o grupo líder na produção e comércio de produtos de limpeza e de higiene pessoal, cuja sede está localizada em Recife, Estado de Pernambuco.
As delegações
A delegação turca foi composta pelos seguintes companheiros: Secretário Geral de Finanças do Petrol-is Turgut Dosova; Secretário Geral de Educação e Organização Mustafa Tekik; presidentes regionais Murat Marangoz (Regional de Mersin) e Ercan Yavuz (Regional de Trakya); e pelo Educador responsável pela Formação do sindicato turco, Erhan Kaplan.
Do lado brasileiro, pelo ABC, participaram desse intercâmbio o presidente do Sindicato, Raimundo Suzart, o secretário de administração Juvenil Nunes da Costa; o secretário geral e de imprensa Ronaldo de Oliveira; o secretário de Saúde, Trabalho e Meio Ambiente Paulo Sergio Lima, e os dirigentes Paulo José dos Santos e Dalva Lucio de Oliveira (Regional Santo André); Amabile de Oliveria Cordeiro (Regional São Bernardo) e Ana Maria Pereira Gomes (Regional Diadema), além dos assessores Nilton Freitas e Gislene Madarazo.
Dando suporte à visita e às atividades, acompanharam as delegações José Carlos da Silva, diretor de Imprensa e Divulgação da Fetraquim-RJ e a assessora da diretoria Neida dos Santos.
Confira abaixo a galeria de fotos desta quinta etapa do intercâmbio entre a categoria química do ABC e a categoria química da Turquia