Ex-deputado José Genoino e Rafael Marques, do TID Brasil, participam do Seminário de Planejamento da recém empossada diretoria do Sindicato
O primeiro dia do Seminário de Planejamento da direção do Sindicato foi marcado por muita reflexão e debate sobre quais passos o movimento sindical precisa dar diante dos desafios colocados pela difícil crise econômica, política e social que vivemos.
Logo no início da manhã, o ex-deputado José Genoino fez uma análise abordando a mudança estrutural do capital, que agora é dominado pelo sistema financeiro e por grandes conglomerados, e suas consequências no cenário político de países estratégicos como o Brasil (rico em pré-sal e água) e no mercado de trabalho (cada vez mais precarizado).
“O sistema quer se apossar do mercado consumidor e quem não puder consumir é descartável, não vale nada. Por isso falamos que o neoliberalismo é perverso, ele quer o lucro acima de tudo, e para isso naturaliza a barbárie”, afirmou Genoino. “Nessa situação, a democracia é um estorvo e começa a proliferar a defesa de um Estado autoritário”, acrescenta.
“No Brasil, os governos Lula e Dilma quebraram essa lógica neoliberal e por isso era necessário o golpe, primeiro com o afastamento de Dilma por pedaladas fiscais, que todos os governos fazem, depois com a prisão de Lula, e por fim com a eleição de um governo comprometido com a Reforma da Previdência para favorecer o sistema financeiro e a privatização das empresas públicas para o capital”, ressaltou.
Segurar a besta fera com política social
O deputado, que esteve 25 anos no parlamento, respondeu a muitas perguntas dos dirigentes e a atividade se tornou uma bate-papo bastante enriquecedor.
Ao final, Genoino deixou um recado importante aos sindicalistas: é preciso segurar a besta-fera do neoliberalismo com política social, algo que foi feito durantes os anos de governo Lula e Dilma. “O país está em risco, a democracia está em risco, os direitos estão em risco. O nosso único caminho é a resistência popular na rua. Nossa aliança é com a rua, com o povo, para criar uma resistência que eles possam temer e negociar”, enfatizou.
TID: precisamos fazer uma grande agenda sobre o modelo de desenvolvimento que queremos no Brasil
A segunda mesa do Seminário contou com a presença do dirigente metalúrgico Rafael Marques, que é presidente do Instituto Trabalho, Industria e Desenvolvimento (TID Brasil).
Rafael falou sobre as mudanças no mundo do trabalho sob a ótica da Indústria 4.0 e o processo de desindustrialização do país.
“Olhando o cenário brasileiro hoje percebemos que o mercado de trabalho retroagiu 20 anos, não vemos nenhum benefício advindo da reforma trabalhista. O que vemos é o empresariado brasileiro, que junto com outras forças, está ditando uma agenda de informalidade e precarização geral do mercado de trabalho”, afirma Rafael.
Diante de todas essas mudanças, quem os sindicatos vão representar? Na sua opinião, esse é grande questão que se apresenta aos dirigentes sindicais. “O mundo do trabalho está mudando e o grande desafio hoje do movimento sindical é saber quem representa quem e como os sindicatos se organizarão daqui para frente”, disse.
Rafael pontua que cerca de 700 grandes conglomerados – citando
exemplos como a Roche, Ford e BASF – estão ditando as regras mundo afora. “Eles têm um arsenal de mudanças de processos por meio das novas tecnologias jamais visto, gigantesco. E isso vai alterar a cabeça dos operários”, observa o sindicalista.
Desindustrialiação
O coodenador do TID, Instituto que estuda a relação entre os processos industriais, mercado de trabalho e desenvolvimento econômico, ressalta que o Brasil vive um momento de desindustrialização crescente e o movimento sindical precisa começar a agir e fomentar discussões em defesa de uma indústria brasileira que gere empregos de qualidade, renda e desenvolvimento econômico e social.
“O Brasil é o quarto maior consumidor de aplicativos no mundo, mas em criação está no 32º lugar. Então os empregos desse processo não estão no país. Esse tipo de situação tende a se aprofundar com a Indústria 4.0, portanto é urgente uma grande agenda sobre o modelo de desenvolvimento que queremos no Brasil”, destaca.
Três dias de Seminário
O primeiro de três dias do Seminário terminou com discussões sobre o Plano de Trabalho da Secretaria de Formação do Sindicato. A atividade segue até o dia 24 com discussões e planejamentos de todas as secretarias.
“As reflexoes e debates são peças fundamentais para o trabalho de base de uma liderança sindical no atual cenário do país. Este seminário é de planjamento, mas também de integração dos novos diretores e diretoras da gestão que foi empossada no dia 27 de abril passado”,explicou o presidente do Sindicato, Ramundo Suzart. “Certamente sairemos muito mais fortes, preparados e unidos para defender os direitos dos trabalhadores e trabalhadoras!”, completou.