A edição deste mês aborda o risco do desemprego na indústria. Confira!
Sinal amarelo para a matéria-prima do crescimento
Presidente do Sindicato dos Químicos do ABC, Raimundo Suzart, critica setor por abusar da rotatividade: “Ganhou muito nos últimos dez anos e tem gordura para não tratar resfriado como pneumonia”
por Vitor Nuzzi
Um sinal amarelo acendeu na base do Sindicato dos Químicos do ABC, entidade que representa 40 mil trabalhadores de diversos setores, inclusive o estratégico polo petroquímico. No primeiro semestre, entre contratações e demissões, a base perdeu 1.400 vagas, especialmente no segmento plástico, que concentra metade da categoria.
“A Lava Jato deixou de ser criminal e virou processo político. O Serra é citado e botam uma tarja preta em cima do nome dele. Há um problema econômico mundial, mas que no Brasil é agravado pela crise política”
“É um número considerável”, comenta o presidente da entidade, Raimundo Suzart. Baiano de Andaraí, na Chapada Diamantina, ele está na base da categoria química do ABC há 30 anos – tem 47. Eleita em novembro passado com 98% dos votos, a nova diretoria tomou posse em abril, e em julho último realizou seu 12º congresso – que, entre outros temas, discutiu o cenário político e a campanha salarial que se aproxima, em um ambiente turbulento.
Raimundo admite a crise. Mesmo assim, acredita que há espaço para fechar acordos com, no mínimo, a reposição da inflação. Até porque muitas empresas adotam uma tática que implica em uma redução salarial disfarçada: contratam trabalhadores com remuneração anterior à da data-base e, portanto, sem aumento.
Para ele, também há motivos para criticar o governo, mas ao mesmo tempo não tem dúvida de que se trata de um projeto a ser defendido. “Com todas as dificuldades, não podemos negar os avanços que a gente teve.”
As investigações da operação Lava Jato, que para o sindicalista passaram a ter viés político, não afetaram a operação da Braskem, empresa cuja receita líquida atingiu R$ 46 bilhões no ano passado, com lucro de R$ 726 milhões. No caso da gigante petroquímica, a principal preocupação, diz Raimundo, concentra-se nas negociações com a Petrobras para fornecimento de nafta – o acordo atual vence em agosto. Sem a matéria-prima, tudo pode parar no polo.
Vocês acabaram de sair de um congresso. O que preocupa mais neste momento?
Tomamos a decisão de fazer do nosso 12º congresso um evento político. Fizemos análise macroeconômica, política, trouxemos várias pessoas de outros países e de outros setores. Em alguns momentos a crise é mais política do que econômica. A gente percebe que alguns setores da nossa categoria poderiam estar avançando mais, e aí a gente pode citar a Lava Jato, que atinge diretamente a nossa maior empresa, que é a Braskem, e a Petrobras, que é a sócia e vende a matéria-prima para a Braskem. Temos um impasse hoje em torno da nafta que nos afeta. Não podemos negar que a Lava Jato deixou de ser criminal e virou processo político, e aí gente vê que o senador José Serra (PSDB-SP) foi citado e botaram uma tarja preta em cima do nome dele. Entendemos que economicamente existe um problema que é mundial, mas que no Brasil é agravado pela crise política que a gente tem hoje com o Congresso, o presidente da Câmara denunciado.
Há tempo é discutida a questão da nafta. Como está essa negociação?
Na questão da nafta, a Lava Jato não teve impacto. Tem um impacto na Braskem, o presidente do conselho foi detido (Marcelo Odebrecht – a Odebrecht é controladora da Braskem). Uma negociação sobre preço se arrasta. São feitos acordos semestrais e a todo momento tem um impasse, se será renovado. Entra toda aquela tensão se vai ter nafta para as unidades continuarem produzindo: a de Capuava, aqui no ABC, a de Triunfo, no Rio Grande do Sul, e a de Camaçari, na Bahia. Quando apareceu a crise e talvez fosse faltar nafta para a Braskem, foi uma grande tensão, porque o polo que ficaria parado é o do ABC. Até o momento não tem renovação do contrato. Vence no final de agosto. O que sabemos é que tem um processo avançado de negociação, Petrobras, Braskem, e dessa negociação participa um representante de cada estado onde há polo petroquímico, mais ministérios de Minas e Energia e de Desenvolvimento, para tentar construir o acordo de renovação de fornecimento da nafta da Petrobras para a Braskem.
Os sindicatos do setor têm algum tipo de participação nessa discussão?
Até oito meses atrás, a negociação era entre Braskem e Petrobras. O que mudou foi que, com a eleição da Dilma, se montou uma comissão para negociar. Tem um representante do PSDB, do estado de São Paulo, indicado pelo governador Alckmin. Foi solicitado que se indicasse um representante do ABC, que é onde está o polo petroquímico, mas o governo (estadual) não aceitou. Tem um representante do Rio Grande do Sul, que é do PMDB. E tem um representante da Bahia, que é do PT. Podemos dizer que os três grandes partidos do Brasil estão representados na comissão de negociação.
É um setor estratégico para vocês…
Não só para nós, para o Brasil. Hoje, podemos dizer do componente do carro que de 30% a 40% são resinas plásticas. Na construção civil, que a cada dia a gente tem mercados novos aparecendo. Até no medicamento você tem resina plástica. O polo petroquímico acaba também fornecendo matéria-prima para o setor farmacêutico. Como os estudiosos colocam, nenhum país será grande se não tiver uma grande indústria química. Para se ter uma ideia, Mauá (município do ABC), que tem quase 400 mil habitantes, tem 66% da arrecadação proveniente das indústrias químicas. Em Santo André, a indústria química responde por 35% do orçamento. É um impacto enorme em qualquer redução que você tenha na produção da indústria química nessas duas cidades.
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