Leia a Nota Pública da Sociedade Brasileira de Ensino de Química (SBEnQ) sobre as homenagens em 31 de março de 2019
A Sociedade Brasileira de Ensino de Química (SBEnQ) repudia qualquer comemoração festiva ao que representa um triste período da história brasileira, após a instauração da ditadura militar, em março de 1964. A nossa homenagem e respeito são prestados às/aos colegas professoras/es de química e químicas/os que sofreram repressão e perseguição, àquelas/es que foram presas/os, torturadas/os, mortas/os e desparecidas/os no período da ditadura no Brasil.
Hoje é dia de luto em respeito à memória dos desaparecidos e perseguidos no período da ditadura militar no Brasil, que se prolongou de 1964 a 1985. Nesse período, houve a supressão da liberdade de expressão, o Congresso perdeu seus poderes e milhares de brasileiras/os foram perseguidas/os, presas/os, torturadas/os e assassinadas/os. Muitos dos que sofreram essas atrocidades cometeram suicídio, no Brasil e no exterior, devido ao terror vivido nas celas e porões da ditadura. Somente em 1979, foi publicada a Lei de Anistia que permitiu o retorno ao Brasil, de pessoas que haviam perdido seus direitos políticos. Apenas a partir de 1995 o Estado Brasileiro, por meio da Lei 9.140/1995, passou a “reconhecer como mortas pessoas desaparecidas em razão de participação ou acusação de participação em atividades políticas, no período de 2 de setembro de 1961 a 15 de agosto de 1979”. Nos anos seguintes, foi criada a Comissão Nacional da Verdade, responsável pelo direito à verdade e à memória dessas páginas infelizes da história de nosso país. A criação da Comissão Especial da Verdade foi estendida a vários estados brasileiros, o que possibilitou o levantamento mais rigoroso de fatos ocorridos no período de 1964 a 1985.
Nós, da Sociedade Brasileira de Ensino de Química (SBEnQ), nesta data, afirmamos a importância de homenagear muitas das pessoas desaparecidas que lutaram por um Brasil socialmente mais justo e menos desigual e pela permanência e consolidação do Estado de Direito. Com isso, buscamos construir garantias de que os erros não sejam repetidos e de que não sejam esquecidas as dores dos filhos e filhas desse país, nesse período, cujos gemidos ainda ecoam no peito daqueles que tiveram seus núcleos familiares e sociais destruídos. Ditadura nunca mais! Que todos os caminhos nos levem sempre ao aperfeiçoamento dos modos democráticos de organização política e social.
Em nome de todos os que sofreram as dores da ditadura, ressaltamos:
Ana Rosa Kucinsky (1942-1974): formada em Química e docente no Instituto de Química da USP. “Desapareceu” em 22 de abril de 1974.
Carmen Lúcia Soares (1940-1975): Formada em Química pela USP em 1964, era professora de Química na Escola Caetano de Campos, que na época funcionava na Praça da República. Foi presa em dezembro de 1970, aos 30 anos de idade, por suposta delação de um estudante submetido à tortura. Com ela, também estavam outras professoras: Sylvia Aranha Ribeiro (Filosofia e Sociologia) e Vilvanita (Português). Estiveram presas no DOPS onde foram torturadas e submetidas ao pau-de-arara. Ao sair da prisão desenvolveu esquizofrenia, constantemente se achava sendo vigiada e perseguida, afastando-se dos amigos mais próximos e dos irmãos.
Em 1973, teve um câncer na garganta, falecendo em 08 de fevereiro de 1975, no Hospital das Clínicas-USP.
Bergson Gurjão Farias (1947-1972): cearense, cursava Química na Universidade Federal do Ceará, participou do 30º Congresso da UNE, em Ibiúna/SP, em outubro de 1968. “Desapareceu” entre maio e junho de 1972.
Hélio Luiz Navarro de Magalhães (1949-1974): cursava Química na Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Desapareceu” em janeiro de 1974.
Issami Nakamura Okano (1945-1974): cursava Química na Universidade de São Paulo. “Desapareceu” em maio de 1974.
Mansur Lufti: Professor da FE/UNICAMP, foi aluno de Ana Rosa Kucinsky e preso político (depoimento https://youtu.be/mVBdkZmVTqs).
Sérgio Massaro: Professor do IQ/USP, colega de Ana Rosa Kucinsky, foi preso político (depoimento https://youtu.be/hcebl0v67kw).
Fontes: 1Brasil. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. Direito à Memória e à Verdade. 2007; 2Comunicação pessoal.
Veja também:
Dulce Muniz, militante presa com Olavo Hanssen
Ato em Homenagem a Olavo Hanssen
http://www.quimicosabc.org.br/videos/ditadura-comissao-da-verdade/ato-olavo-hanssen/?p=10
As vítimas da ditadura – Depoimentos
https://www.youtube.com/watch?v=L-u7-mq_U48