Evento segue até o dia 7 de outubro, no Rio de Janeiro
Mais de 1.300 sindicalistas de 140 países se reúnem entre os próximos dias 4 e 7, no Rio de Janeiro, no 2º Congresso da IndustriALL Global Union, a federação internacional que reúne trabalhadores da indústria química, metalúrgica e têxtil. A abertura do evento, no início da noite de terça (4), teve como principal orador o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Recebido com muito carinho pelas delegações presentes ao evento, Lula falou da sua experiência como presidente, onde em reuniões de líderes globais pouco se ouve sobre os trabalhadores e seus direitos: “Os trabalhadores tem pouca incidência sobre a decisão dos governantes do mundo”.
Sobre o atual momento do Brasil, Lula disse que teremos que lutar como quando ele era jovem para que nossos netos tenham direitos. Chamou a atenção para a PEC 241, que coloca um teto nos gastos de saúde e educação por 20 anos, para a reforma da previdência, e a mudança da lei de acesso ao petróleo do pré-sal, que irá tirar o dinheiro que iria para um fundo de educação com a extração de petróleo.
“Nesses 13 anos tivemos os maiores avanços sociais, salariais, de direitos dos trabalhadores da nossa história. E tudo isso pode ruir se não recuperarmos a democracia no Brasil”, alertou Lula. O ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva minimizou a derrota do PT em diversas cidades do país e que resultou em um encolhimento político do partido. Segundo ele, o resultado é próprio da democracia, que prevê alternância de poder.
Eleições Municipais
O ex-presidente Lula também abordou o resultado das recentes eleições municipais, caracterizando as derrotas do PT como uma questão de alternância de poder. “Uma eleição você ganha, outra você perde. Democracia é isso. Se tivesse escrito que o PT não pudesse perder nunca, eu não ia criar um partido político. É uma disputa. Quem perdeu em 2012, ganhou agora. Quem ganhou agora pode perder em 2018. Essa é a beleza da democracia. É a alternância de poder. A troca de pessoas que governam”, disse Lula.
Ao final do encontro, Lula falou com os jornalistas e comentou também a iniciativa de se fazer reforma na Previdência neste momento.
“Toda vez que tem uma crise econômica, as pessoas conservadoras que dirigem o país começam a falar em corte, em perda de direito, em reforma da aposentadoria. Nunca se fala em reforma da aposentadoria quando a economia está crescendo. Somente quando está em crise se fala nisso, como se fosse a aposentadoria a culpa da crise.”
Para o ex-presidente, não é justo equiparar as idades de aposentadoria de homens e mulheres. “Passar para 65 anos, igualando mulher e homem, é esquecer que a mulher às vezes tem tripla jornada de trabalho”.
Teto dos gastos públicos
Lula criticou a possibilidade de votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241, que limita os gastos públicos nos próximos 20 anos, inclusive em áreas como educação e saúde. “Eu acho que o movimento sindical vai ter uma briga muito séria, porque a PEC 241, que congela investimentos em saúde e educação, é uma coisa seríssima. Porque não é possível melhorar a educação e a saúde sem investimentos.”
Sobre as reformas na legislação trabalhista, Lula disse que algumas coisas podem ser mudadas, mas outras devem permanecer como estão para proteger o trabalhador. “É preciso adequar e modernizar aquilo que já está superado na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), porque ela é de 1943. Pode ter coisa que precisa ser atualizada. O que não se pode prescindir é da proteção que a CLT dá aos chamados setores mais fragilizados do mundo do trabalho, os sindicatos mais fracos, mais pobres. Ela tem que ser mantida.”
Lula se mostrou contrário à privatização de empresas públicas e disse que isto é um problema que deveria incomodar o país. “Deve incomodar ao Brasil. Um governo que acha que só vai resolver os problemas vendendo o que tem é como o marido que fica desempregado e a primeira coisa que faz, ao invés de procurar outro emprego, é propor à mulher vender a cama, vender a geladeira, a televisão.”
Congresso segue até o dia 7 de outubro
O Congresso debaterá o plano de ação global da entidade, focado na luta contra a precarização do trabalho e na liberdade para a ação sindical. Os trabalhados foram precedidos pelo encontro do Comitê de Mulheres e de Juventude (na segunda, dia 3) e de conferências regionais: África, América do Norte e América Latina (também no dia 3), Ásia e Europa (na terça, dia 4, antes da abertura). Ao final, os delegados elegerão a nova direção da federação internacional para mandato de quatro anos.
O Sindicato dos Químicos do ABC participa do evento representado pelo presidente Raimundo Suzart. Os diretores Fabio LIns, Sergio Novais e Lucimar Rodrigues estão presentes representando a CNQ-CUT. A delegação brasileira do ramo químico é composta por 51 companheiros e companheiras.
A IndustriALL nasceu em 2012, a partir da fusão de três federações internacionais de trabalhadores: Fitim (que representava os metalúrgicos), o ICEM (de químicos, petroleiros e trabalhadores em energia) e FITTVC (têxteis e vestuário).