Manifestantes e debates refutam o golpismo
Lideranças do movimento sindical e dos movimentos sociais organizaram neste domingo (16) uma Jornada pela Democracia ao lado do Instituto Lula, com vários debates em mesas temáticas como uma manifestação também contra o ódio e a intolerância que vem sendo manifestado na nossa sociedade pela oposição que não aceita o resultado das urnas.
Vários dirigentes do Sindicato dos Químicos do ABC compareceram à atividade para prestar seu apoio em defesa da democracia e do ex-presidente Lula. O Instituto Lula foi alvo de ataque terrorista no final de julho.
No próximo dia 20, os movimentos farão nova mobilização em defesa da democracia, contra o golpe e em defesa dos direitos e contra o ajuste fiscal. A concentração será às 17h, no Largo da Batata, na região de Pinheiros, na capital.
Confira abaixo a cobertura da atividade pela CUT-SP
Vagner Freitas: “Não vai ter golpe e nem atentado à democracia”
Movimentos garantem unidade nas ruas, contra o golpe e por reforma política
Por Vanessa Ramos (CUT-SP)
Mais de cinco mil pessoas participaram neste domingo (16) do ato pela democracia, contra o ódio e a intolerância, em frente ao Instituto Lula, no bairro do Ipiranga, zona sul da capital paulista. No local, tomado pela cor vermelha, os movimentos sindical e sociais promoveram ampla Jornada Pela Democracia #Nãovaitergolpe, com mesas temáticas de debates que contaram com a cobertura completa e a transmissão ao vivo da TVT.
A atividade ocorreu no mesmo local onde há 17 dias foi lançada uma bomba caseira e no mesmo dia em que grupos contrários ao governo Dilma saíram às ruas pedindo a saída da presidenta da República.
“Não vai ter terceiro turno no Brasil, não tem golpe e não vai ter golpe e nem atentado contra a democracia”, afirmou o presidente da CUT, Vagner Freitas, para quem os movimentos de São Paulo lançaram uma nota em apoio, contra os ataques e distorções da mídia tradicional diante do pronunciamento que o dirigente fez na última semana, em Brasília.
Líder ferroviário antes do golpe de 1964 e que chegou a ser amigo do ex-presidente João Goulart, Raphael Martinelli defendeu Vagner Freitas e avaliou os protestos que a direita fez neste domingo. “O que está acontecendo na Avenida Paulista é um ato que a democracia permite. É uma certa classe não operária, mas do setor da classe média, usando a avenida como passeio. Como político que conheceu a ditadura [de Getúlio] Vargas e a ditadura militar daqui de São Paulo, eu tenho que fazer a defesa de democracia. Esse é o papel da classe trabalhadora. Temos que vir a público esclarecer o povo, sobre o que significou a ditadura e tudo o que ela destruiu no país”, ressaltou.
Freitas fez questão de lembrar das conquistas obtidas pelos trabalhadores nos últimos 12 anos e apontou qual é a bandeira que será levada às ruas nesta conjuntura. “A reforma política é pauta nossa. Fizemos um plebiscito que conseguiu quase oito milhões de votos. Precisamos acabar com o financiamento empresarial de campanha e transformar nosso sistema eleitoral para valorizar os partidos políticos, o coletivo se sobrepondo ao individual. A CUT continuará puxando essas reformas que são importantes para o povo brasileiro.”
A cartunista Laerte responsabilizou a mídia por estimular manifestações que chamou de “irracionalista”, de “ódio” e de “destruição do espaço político de debate”. Para ela, o ato e a jornada de hoje representam uma retomada deste diálogo. “É assim a democracia. Para haver diálogo, é preciso haver troca. Essa gente não sabe o que está pedindo, essa gente não sabe o que é a ditadura”, lamenta.
Para a psicanalista Maria Rita Kehl, o governo precisa dar uma guinada à esquerda. “O PT precisa defender outras questões como a defesa do meio ambiente, das causas indígenas, essas que o partido teve que representar enquanto governo. Mas está na hora de recuperar a radicalidade, voltar a ser um partido com algumas causas que, eticamente, não deveriam ser negociadas nunca”, avalia.
Segundo a presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Juvandia Moreira, quando a sociedade vive fora de uma democracia ou num governo neoliberal, ela sempre irá perder. “Temos tido conquistas nos últimos 12 anos. O nosso papel é fazer a luta e nos governos de Lula e Dilma conseguimos fazer isso, realidade que não víamos desde a década de 1990, em que bancos públicos eram privatizados, a exemplo do que o estado de São Paulo fez”, disse.
Juvandia reforçou a necessidade de mudanças estruturais. “Só vamos conseguir democratizar os meios de comunicação e fazer reforma tributária se a gente fizer a reforma política, que é a mãe das reformas, senão nada passará nesse Legislativo”, pontuou.
Secretário Municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Empreendedorismo de São Paulo (SDTE), Artur Henrique destacou que os movimentos não devem abrir mão de avançar nas reformas estruturais. Recém chegado de uma viagem ao Equador, ele afirmou o quanto atos como o deste domingo são comuns em países da América Latina. “Temos que ocupar cada vez mais as praças e fazer uma disputa de valores. Temos que seguir sem baixar a cabeça, indo para o enfrentamento. Temos muito o que mostrar, nós mudamos o Brasil e vamos continuar mudando.”
A educação também foi lembrada. O secretário de Comunicação do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo (Apeoesp), Roberto Guido, falou sobre a aprovação do Plano Nacional de Educação (PNE). “Foram os últimos governos que garantiram isso e aqui estamos para dizer que não queremos nenhum tipo de quebra do jogo democrático, bem como vamos continuar a defender a Petrobras e os repasses para a educação e a saúde.”
Já o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, disse que os trabalhadores do Brasil são os protagonistas das conquistas atuais. “Queremos que o Brasil siga um curso de distribuição de renda, que vá ao encontro das periferias do país. Deixamos como recado que respeitamos a democracia, ela é vibrante, mas ainda insuficiente. Estamos nas ruas porque queremos mais avanços”, afirma.
Mais amor, menos ódio
O diretor do Instituto Lula, Celso Marcondes, avaliou a atividade como uma demonstração de solidariedade também ao ataque à entidade onde atua. “O caso foi muito menosprezado pela grande imprensa, mas foi uma bomba de alto poder letal, que disparou enormes parafusos. Explodiu antes de chegar no portão, senão teria derrubado o portão. Cerca de 30 pessoas que trabalham lá saíram perto deste horário, inclusive o Lula. Isso se deu no local de trabalho de um ex-presidente da República. E eu queria lembrar que durante a maratona de Boston onde ocorreu um atentado e nas guerras do Iraque também são usadas bombas desse tipo”, repudiou ao cobrar que nenhuma apuração foi feita até o momento.
Coordenador Estadual da Central de Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bonfim pontuou que a sociedade assiste uma violência que se insere em um contexto de ódio da burguesia, da forma como a elite se coloca frente aos trabalhadores no país e os movimentos sociais. “Estamos nas ruas para dizer que não aceitaremos a direita e a oposição que foi derrotada em 2014 implementar uma pauta conservadora, que visa tirar direitos dos trabalhadores e travar qualquer processo de avanço não só com relação ao governo, mas com relação aos nossos movimentos”, diz.
A coordenadora do serviço SOS Racismo da Assembleia Legislativa de São Paulo, Eliane Dias, aproveitou a o momento para reforçar seu incômodo com a violência de forma geral, especialmente com relação às mortes de cidadãos nas periferia de Osasco e Barueri. “É uma intolerância permanente. Uma falta de respeito, de amor e de democracia.”
O historiador Douglas Belchior, professor e coordenador da União de Núcleos de Educação Popular para Negros/as e Classe Trabalhadora (Uneafro) também trouxe à tona a chacina na região de Barueri e Osasco e repudiou as ações da Polícia Militar. Mas, igualmente, não deixou de se referir à atual conjuntura. “Somos herdeiros da tradição da esquerda brasileira. Não podemos deixar matar as nossas ideias, de utopia de um governo. E de jeito nenhum vamos aceitar que a direita volte a governar este país.”
Próxima agenda – No dia 20 de agosto, os movimentos farão nova mobilização, com concentração às 17h, no Largo da Batata, na região de Pinheiros, na capital paulista. Eles levarão às ruas a defesa da democracia, contra o golpe, mas também exigem que nenhum direito a mais seja retirado da classe trabalhadora, como tem sido presenciado com o ajuste fiscal.