Representantes de CUT e demais centrais sindicais, sindicatos e movimentos sociais fizeram manifestação diante da sede da autoridade monetária em várias regiões do país
Por: Vitor Nuzzi – RdB
São Paulo – Com a visão de que a independência formal do Banco Central equivaleria a entregar o comando do sistema financeiro ao setor privado, dirigentes de centrais e movimentos sociais fizeram na tarde de hoje (2) manifestação diante da sede do BC em São Paulo, na Avenida Paulista – atos semelhantes foram organizados em várias cidades. Para eles, além de delegar a política econômica aos bancos particulares, a medida também levaria ao enfraquecimento dos bancos públicos, principais fomentadores de crédito para a área social, como a agricultura familiar e o ensino público.
A discussão voltou a ganhar força durante a campanha eleitoral, já que pelo menos uma candidata, Marina Silva (PSB), manifestou-se favoravelmente à independência da autoridade monetária, enquanto a presidenta Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, é contra.
O Banco Central é o executor das decisões do Conselho Monetário Nacional, formado pelos ministros da Fazenda e do Planejamento, além do presidente do próprio BC. Tem entre suas atribuições, conforme anuncia, “zelar pela adequada liquidez da economia”, “manter as reservas internacionais em nível adequado”, “estimular a formação de poupança” e “zelar pela estabilidade e promover o permanente aperfeiçoamento do sistema financeiro”. Atualmente, o BC tem autonomia apenas operacional.
O ato reuniu dirigentes e militantes de quatro centrais (CUT, CTB, CSP-Conlutas e Intersindical) e de movimentos como MST (sem-terra), UNE, MAB (atingidos por barragens) e Levante Popular da Juventude. Também participaram os presidentes dos sindicatos de Bancários de São Paulo, Juvandia Moreira (a categoria está em greve nacional há três dias), e dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques. Eles se concentraram no vão livre do Masp e caminharam até a sede do BC, alguns metros adiante.
Para o presidente da CUT, Vagner Freitas, a manifestação desta tarde, que ele definiu como “ato cívico”, é uma representação do debate que ocorre agora no país. “É uma discussão de projetos, propostas e de futuro”, afirmou. “O mundo inteiro questiona a independência dos bancos centrais”, acrescenta o sindicalista, citando como exemplo o BC europeu, que estaria esvaziando o projeto de unificação do continente. “Os direitistas e rentistas utilizam o Banco Central Europeu para fazer política de recessão.” No Brasil, a independência significaria “colocar o BC no colo dos banqueiros”.
Na mesma linha, o presidente da CTB, Adilson Araújo, afirmou que “um BC independente pressupõe entregar a nossa economia ao Bradesco, Itaú, Citibank”. Segundo ele, a proposta é apresentada há muito tempo e faz parte da “velha cartilha neoliberal”. Defensor de mudanças na condução macroeconômico, o dirigente avalia que, passada a eleição, o “grande passo a ser dado” está ligado a reformas estruturais no país, particularmente a política. “A luta é desigual. Empresa privada não vota, mas financia campanha.”
O secretário-geral da Intersindical, Edson Carneiro, o Índio, disse que o BC é estratégico para qualquer país e enfatizou a necessidade de um debate sobre o sistema financeiro nacional. E citou o artigo 192 da Constituição – na abertura, se determina que o sistema deve ser “estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do país e a servir aos interesses da coletividade”. “O que eles querem é que a raposa cuide do galinheiro”, afirmou.
A proposta de independência levaria o BC a se tornar “o sindicato nacional dos banqueiros”, segundo o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Carlos Cordeiro. Ele observa que nos Estados Unidos o Federal Reserve (o BC norte-americano) observa não apenas metas de inflação, mas também de emprego. “Aqui, eles (defensores da independência) querem crescimento econômico com concentração de renda.”
“O Banco Central tem de estar pensando na agricultura, na indústria e no emprego, não na especulação financeira”, reforçou Edison Cardoni, dirigente da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef) e funcionário do BC.
“No Brasil, os bancos privados não têm cumprido seu papel social, que é induzir o crescimento da economia”, criticou Juvandia, acrescentando que foram as instituições públicas que impediram uma recessão no país depois da crise de 2008. “Os bancos privados reduziram a sua oferta de crédito. Não podemos permitir o enfraquecimento dos bancos públicos.”