Produção da indústria farmacêutica cresceu 29,4% em janeiro e perspectivas para o ano são de aumento do faturamento. Ganho real de salário acumulado entre 2003 e 2013 é de 10,7%
Confira abaixo artigo de autoria do economista da Subseção Dieese do Sindicato, Thomaz Jensen, preparando as discussões que acontecerão a partir desta quarta-feira, 26, na primeira rodada de negociação da Fetquim e sindicatos com o Sindusfarma (patronal). Rodada decisiva será no dia 28, na sede do Sindicato dos Químicos de São Paulo.
A indústria farmacêutica responde por 16,3% dos 162,3 bilhões de Dólares que a indústria química como um todo faturou no Brasil em 2013. Segundo dados da entidade que representa a patronal nas negociações com os trabalhadores, o SINDUSFARMA, o volume de vendas cresceu 8,7% no ano passado, somando 2,8 bilhões de unidades comercializadas. E, por conseqüência, o faturamento líquido das empresas instaladas no Brasil cresceu 12,3% em relação a 2012, e atingiu 55,7 bilhões de Reais. O mercado de medicamentos genéricos teve desempenho ainda melhor em 2013, com expansão de 23% nas vendas e de 16% na quantidade de unidades comercializadas.
Boa parte do lucro obtido pelas farmacêuticas já foi enviado para o exterior, uma vez que os grandes laboratórios instalados no Brasil são transnacionais. Analisando os balanços das 22 maiores corporações farmacêuticas instaladas no Brasil, vemos que 68% do faturamento é gerado em empresas transnacionais. E, apenas em 2013, estas corporações remeteram 471 milhões de Dólares às matrizes, considerando lucros, dividendos e pagamento de empréstimos.
A dependência em relação às transnacionais e a ainda insuficiente produção nacional de princípios ativos para medicamentos levaram o setor a ampliar o déficit comercial em 2013, ou seja, a diferença entre o que o País exporta em relação a que importa. Apesar das exportações de produtos farmacêuticos terem alcançado 1,5 bilhão de Dólares, isso não impediu o déficit de 5,8 bilhões de Dólares em 2013, uma vez que as importações superaram os 7,3 bilhões de Dólares no ano. Os principais países dos quais o Brasil importa produtos farmacêuticos são Alemanha, EUA, Suíça e França, que juntos respondem por 55% do total importado em 2013. Um dado preocupante é o crescimento da importação de medicamentos já industrializados, o que significa menos emprego que poderia ter sido gerado no setor se os mesmos medicamentos fossem produzidos no Brasil.
O Estado de São Paulo concentra 35% das empresas farmacêuticas instaladas no Brasil. No Estado, estão 52.316 trabalhadores do setor, que representam pouco mais da metade do total de trabalhadores em indústrias farmacêuticas no Brasil. No ABC, estão cerca de 1.750 trabalhadores em indústrias farmacêuticas, sendo que São Bernardo do Campo concentra 65% dos trabalhadores em indústrias farmacêuticas na região.
A inflação estimada para a data-base da categoria é de 5,5%, bem abaixo dos 7,22% registrados em 2013, o que abre espaço para ganhos reais nos salários e no piso, bem como avanços na PLR mínima, no acesso a medicamentos e, especialmente, na ampliação da licença-maternidade para 180 dias, bandeira histórica do movimento sindical e que pode ter importante avanço este ano.
Thomaz Ferreira Jensen, economista, assessor técnico do DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), atuando na subseção do Sindicato dos Químicos do ABC. Contato: thomaz@dieese.org.b