O grande golpe neste país foi aquele que roubou de uma geração inteira o direito de se desenvolver com igualdade de oportunidades, com liberdade de expressão e opinião, com transparência e justiça social
Uns roubam bancos, outros aplicam golpes (do baú, do bilhete premiado, do empréstimo liberado, da herança etc.), pequenos golpes. Mas o grande golpe neste país foi aquele que roubou de uma geração inteira o direito de se desenvolver com igualdade de oportunidades, com liberdade de expressão e opinião, com transparência e justiça social. Esse foi o golpe de 31 de março de 1964 (ou 1º de abril, dizem).
Um bando de funcionários públicos das Forças Armadas depôs o presidente eleito e seus ministros. Mais tarde resolveram concluir o assalto: fecharam o congresso nacional, cassaram governadores e prefeitos eleitos, destituíram direções de sindicatos, ilegalizaram partidos políticos colocando milhares de pessoas na ilegalidade, calaram a boca de intelectuais, religiosos, artistas e qualquer cidadão que, indignado, ousasse enfrentá-los.
Sem um plano de governo aprovado por um único voto, durante 21 anos dirigiram todas as funções do Estado, como saúde, educação, produção de alimentos, petróleo, relação de trabalho, previdência social…, tudo! E sem qualquer tipo de fiscalização, pois não havia CPI, sindicato, ministério público, policia federal, imprensa livre, ONGs…, nada!
Uma minoria enriqueceu e a grande maioria amargura até hoje as consequências de um modelo de desenvolvimento excludente e autoritário. A Comissão da Verdade criada pela presidenta Dilma começa a trazer a verdade à tona, além de cadáveres de jovens estudantes, sindicalistas, mulheres e homens comuns que ousaram dizer “não!”. Apesar disso, ainda não foram levados à Justiça e seus cúmplices na imprensa, nos bancos e nas associações industriais ainda se beneficiam daqueles tempos.
Continuam, por isso, pregando a volta da ditadura que lhes foi benéfica. Culpam a democracia, os direitos humanos, as políticas públicas do PT para os mais pobres, por todos os problemas. Derrotados no voto, usam seus órgãos de imprensa e a internet para fomentar o ódio, criar insegurança, gerar desconfiança e descrença. Querem a volta da ditadura e não descartam golpes pela via judiciária ou legislativa. Por isso, lembrar o golpe de 64 é exigir que os golpistas civis e militares sejam levados à Justiça, para o bem da democracia e de um modelo de desenvolvimento econômico e social justo e equitativo.
Paulo Lage é presidente do Sindicato dos Químicos do ABC