Trabalhadoras químicas uniram-se às mulheres e ocuparam Avenida Paulista em defesa da aposentaria e de direitos sociais e trabalhistas
Na Avenida Paulista, em São Paulo, trabalhadoras foram às ruas nesta sexta-feira, 8, Dia Internacional da Mulher, marcar posição contra diversas propostas do governo Bolsonaro, entre as quais a reforma da Previdência. O ato, que seguiu até a Praça Roosevelt, reuniu mais de 80 mil pessoas, segundo as organizadoras.
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 06/2019 propõe mudanças estruturais na Previdência Social. Entre outras medidas, o governo pretende aumentar a idade e mexer no tempo de contribuição para se aposentar. Na prática, a população irá morrer trabalhando e dificilmente conseguirá ter acesso a uma aposentadoria digna e a uma vida de qualidade.
Secretária da Mulher Trabalhadora da CUT São Paulo, Márcia Viana ressalta que a reforma proposta por Bolsonaro atingirá principalmente as mulheres, que hoje vivem a realidade do desemprego e da informalidade, principalmente após a aprovação da reforma trabalhista e da terceirização sem limites.
“Primeiro estamos falando de um governo que a cada semana faz o Brasil passar por uma vergonha diferente no cenário internacional. Segundo, este governo não leva em consideração que nós ganhamos 30% menos do que os homens e ainda vivemos a dupla ou tripla jornada, já que trabalhamos na semana cinco horas a mais do que os homens. Por fim, sabemos que a reforma da Previdência significa o Brasil da miséria no futuro, com o povo passando fome e sem ter onde morar”, afirma.
Outra questão que comprova que as mulheres serão as mais atingidas, como aponta Márcia, se refere à mudança nas regras sobre pensões. Se aprovada, a reforma irá diminuir os valores e dificultar o acesso às pensões por morte, além de restringir o acúmulo de benefícios.
Além disso, o abono salarial do PIS/Pasep de R$ 998/ano pago às trabalhadoras que ganham até dois salários mínimos acabará. O governo propõe que apenas seja pago às pessoas que recebem um salário mínimo, mas isso prejudicará 91,5% do total de brasileiros (as) que têm este perfil e que hoje recebem o benefício, segundo levantamento do portal Trabalho Hoje.
Para aprovar a PEC da Previdência, primeiro são necessários os votos favoráveis de 308 dos 513 deputados em dois turnos de votação. Depois, é preciso apoio de 49 dos 81 senadores também em duas rodadas de votação.
Resistência feminista
Na Avenida Paulista, a manifestação começou por volta das 16h. Nas camisetas e cartazes, além do repúdio contra a reforma da Previdência, as mulheres carregavam a defesa da igualdade de gênero, a luta contra o feminicídio e exigiam a liberdade de Lula, preso político desde abril de 2018. Representando diversos sindicatos, as mulheres da CUT organizaram o bloco “Lula Livre” para chegar ao ato.
Trabalhadoras na Ford, que estão sob ameaça de desemprego após o anúncio de fechamento da fábrica em São Bernardo do Campo, também compareceram ao ato para pedir apoio à luta de resistência. “Essa fábrica da Ford é simbólica porque tem mulheres trabalhando na linha de produção de caminhões e sou uma delas. Foi uma surpresa receber a notícia de fechamento e estamos abaladas com isso, pois as mulheres da fábrica são responsáveis pelo sustento da família. Viemos neste ato lutar pelos empregos e se juntar as demais bandeiras de luta”, disse Simone Aparecida, de 49 anos e que está há 24 na montadora.
A vereadora Marielle Franco, assassinada há quase um ano no Rio de Janeiro, foi homenageada com diversos cartazes e gritos de ordem de “Marielle, presente!”. Faixas levadas por sindicatos e movimentos de mulheres exigiam justiça e resolução do caso.
Outras regiões
A CUT e seus sindicatos também participaram dos atos de luta pelo Dia Internacional da Mulher em Campinas, onde os participantes marcharam pelas principais ruas da cidade, e em Bauru, no interior de São Paulo, onde sindicalistas discursaram sobre a importância da data para os trabalhadores que circulavam pelo centro.
Fonte: Rafael Silva e Vanessa Ramos