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Greve histórica dos petroleiros: a reação à mudança autoritária do turno foi uma das determinantes de adesão ao movimento

26/02/2020 às 22h15

Por Remígio Todeschini

Sem dúvida, os petroleiros realizaram uma das maiores greves da Petrobrás, nestes últimos 25 anos, que envolveu mais de 20 mil trabalhadores da Petrobrás em 118 unidades de produção, extração, refino de Petróleo. A greve teve como um dos pontos centrais a resistência à privatização do patrimônio de todos os brasileiros, a luta por preços justos dos derivados de Petróleo para o povo e desenvolvimento nacional. Continua  a luta contra demissões arbitrárias como o fechamento da FAFEM do Paraná e da privatização de refinarias. A greve teve como uma das determinantes essenciais do movimento a reação forte e unitária dos petroleiros contra a atitude neoliberal autoritária e fascista da gestão Castello Branco em alterar por imposição a tabela de turno, contrariando o artigo 7º da Constituição Federal.

Auzélio Alves, Diretor do Sindicato dos Petroleiros de Mauá, ao falar dos resultados da greve recorda que a imposição autoritária da nova jornada de 3×2, foi recebida de forma “odiosa” pela base e a reação dos trabalhadores foi dada  pela “grande adesão das bases operacionais na greve, em relação às folgas”. As tabelas na Unidade de Mauá-SP, sempre previram folgas seguidas de 4 a 6 dias, e de repente a atitude arbitrária da Petrobrás em mudar a tabela, com redução de 50% de dias seguidos de folga, impôs uma reviravolta que mexeu com a rotina, maior exposição de produtos químicos,  compromissos de família com educação e lazer entre outros.

Itamar Sanches, Diretor do sindicato de Paulínea-SP, e secretário geral da CNQ, também reforça que o fator determinante da greve foi a imposição da nova jornada de turno com menos folgas. Segundo Itamar a grande vantagem dos Petroleiros, até então foram as folgas grandes que em muitos casos coincidiam com finais de semana, variando entre 4 e 6 dias também.

Pesquisa em curso da FETQUIM, com a Universidade de Brasília, em dados preliminares, junto a trabalhadores do ABC, Campinas e Jundiaí,  mostra que os trabalhadores prezam por jornadas de turno com  folgas maiores, como o caso da quinta turma.  Airton Cano, coordenador da Fetquim, que expressou pela direção da Fetquim em diversos momentos solidariedade à greve dos petroleiros, considera que a pesquisa em curso sobre turno reforçará também a mobilização dos trabalhadores químicos e petroquímicos não perderem as atuais vantagens que as tabelas com mais folga hoje permitem. Caso contrário há o aumento de problemas psíquicos, físicos, familiares e sociais.

A mobilização dos petroleiros segue. A acordo no TST em Brasília, no último dia 21 de fevereiro, resultado da força dessa grande greve, entre diversos pontos acordados com a Petrobrás e TST, cancelou suspensões  por motivo da greve. Reduziu em 95% a multa anteriormente imposta pelo TST. Revogou principalmente a mudança imposta de turno aos petroleiros da tabela 3X2,  e consultará os trabalhadores e  sindicatos de petróleo por unidade para que prevaleçam tabelas com um número maior de folgas.  

* Remígio Todeschini, ex-presidente do Sindicato, é atualmente pesquisador de saúde, trabalho e previdência da UnB e assessor da Fetquim-SP