Em evento realizado no Teatro Municipal de Mauá, Sindicato celebra a história do Polo Petroquímico do ABC com livro, vídeo e exposição de fotos
Por Gislene Madarazo e Rafael Silva – Fotos: Dino Santos
Com muito orgulho, o Sindicato dos Químicos do ABC, que completou 84 anos de fundação este ano, aceitou o desafio de estar à frente do projeto de celebrações dos 50 anos do Polo Petroquímico do ABC, afinal ambas histórias se misturam e se completam em certa medida.
Fundado em 1938 por trabalhadores da Rhodia, o Sindicato já estava robusto quando o ABC começa a receber trabalhadores de diferentes regiões do País para a construção do Polo Petroquímico do ABC, inaugurado em 1972. E esteve à frente de importantes lutas e vitórias relacionadas à defesa das condições de saúde, segurança e valorização dos trabalhadores do complexo industrial.
O projeto de celebração dos 50 anos do Polo foi patrocinado pelas empresas Braskem, Oxiteno e Cabot, e contou com o apoio da Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química), do COFIP ABC (Comitê de Fomento Industrial do Polo do Grande ABC) e das Prefeituras de Santo André e Mauá.
Nesta quinta-feira, 15/12, o Teatro Municipal de Mauá foi o palco para o lançamento do livro, que encerrou as festividades dos 50 anos do Polo.
Presidente do Sindicato, Raimundo Suzart destacou a importância do Polo para as cidades da região e até mesmo para o Brasil, já que ele deu origem a outros polos, como os de Camaçari (BA) e Triunfo (RS), fortalecendo a indústria com a geração de empregos e renda. Sobre o livro, o dirigente disse ser uma oportunidade para conhecer a história do polo e as lutas travadas nesse processo a partir de diferentes visões – de trabalhadores, pesquisadores e empresários.
“A publicação traz a história, os avanços e as dificuldades do local, bem como as questões de riscos, pois é o único polo do Brasil em que o entorno é ocupado pela população. O livro aborda esses assuntos para provocar discussão entre os trabalhadores e as trabalhadoras e para que a comunidade possa entender a importância desse espaço para a região do ABC e pro Brasil”, disse Raimundo.
O evento de lançamento foi prestigiado por lideranças sindicais, empresariais e políticas, além de representantes da Cofip e da Prefeitura de Mauá, como o vereador e presidente da Câmara Municipal da cidade, Geovane Corrêa, o deputado estadual eleito Rômulo Fernandes, o coordenador político da Fetquim/CUT, Airton Cano, o secretário de Comunicação da CUT-SP, Belmiro Moreira, e o presidente da COFIP ABC, Max Araújo.
A atividade também teve a apresentação da Orquestra Locomotiva, composta por jovens participantes de projetos sociais do Polo, e cerimonial do jornalista da região, Joaquim Alessi.
Prefeito de Mauá, Marcelo Oliveira falou sobre as políticas de desenvolvimento sociais e econômicas da cidade, reconhecendo a indústria química como uma das grandes geradoras de emprego na região.
“O Polo é fundamental para a população de Mauá e nosso governo tem dialogado bastante com as empresas para a geração de empregos e desenvolvimento social. Além disso, temos discutido todos os desafios em conjunto com os trabalhadores, sindicatos, empresas e comunidade local. É um orgulho, inclusive, ter assinado dentro da fábrica, junto aos trabalhadores, o decreto para instituir o Polo, pois são eles que colocam as máquinas para funcionar”, afirmou.
Em agosto, as prefeituras de Mauá e de Santo André assinaram decretos que reconhecem a delimitação institucional do Polo Petroquímico e instauraram o Comitê Gestor de Governança do complexo industrial, grupo técnico para discutir as políticas e os desafios do local.
Fátima Ferreira, diretora de Economia da Abiquim, apresentou números da indústria química, indicando haver espaço para a expansão do setor no país, já que alguns dos produtos importados possuem capacidade de produção nacional. Segundo Fátima, os próximos anos são promissores. “São Paulo possui 60% das fábricas químicas do Brasil e grande parte está aqui no ABC. Por isso, estamos à disposição para olhar para o futuro para que o Polo tenha muitos anos pela frente. Os 50 anos é uma conquista para todos, aos trabalhadores e a comunidade em seu entorno”.
No local do lançamento também houve a exposição de fotos históricas e um vídeo com imagens apresentando o processo de construção do Polo e também as lutas realizadas pelo movimento sindical ao lado dos trabalhadores, como greves e protestos.
A exposição estará aberta ao público no Teatro Municipal de Mauá até o dia 15 de janeiro, e na Câmara Municipal de Santo André até o dia 3 de janeiro.
A exposição de Santo André vai até o dia 03 de janeiro e a de Mauá até 15 de janeiro
Lideranças químicas destacam principais lutas nestes 50 anos do Polo
As celebrações dos 50 anos do Polo acabaram reunindo lideranças históricas do Sindicato, como os ex-presidentes Remigio Todeschini e Paulo Lage. Junto ao atual presidente, Raimundo Suzart, as lideranças destacam as lutas que mais marcaram o período em que estavam na direção da entidade.
Raimundo Suzart: a importância do diálogo
É natural capital e trabalho terem conflitos, disputas, mas é fundamental o diálogo. Aqui no Polo temos 11 mil postos de trabalho, diretos e indiretos, a melhor PLR e os melhores salários. Por isso nós temos orgulhos de lançar um livro e um vídeo em conjunto com o COFIP ABC contando esses 50 anos história. Afinal, só existe indústria porque existem trabalhadores.
Remigio Todeschini: saúde do trabalhador e meio ambiente
O nascimento do Polo possibilitou empregos especializados no ramo químico. E nos 40 anos do novo sindicalismo, a partir da vitória da chapa de oposição pró-CUT, tivemos várias lutas vitoriosas relacionadas às condições de trabalho, saúde e meio ambiente.
Conseguimos a implantação da 5ª turma com jornada de 33h e 36 min; a substituição do mercúrio na antiga Solvay; o controle rígido do Benzeno, que é cancerígeno; a mudança da NR 13, de vasos sob pressão, após morte do companheiro Ivo.
Além de discussão de política industrial com fortalecimento da Petrobras como braço petroquímico, o que deverá voltar com o apoio de Lula-, e política industrial com incentivos.
Paulo Lage: ampliação do Polo e a greve das galinhas
A Expansão era necessária, pois o Polo do ABC vinha perdendo muita competitividade diante do Polo de Camaçari e de Triunfo, mas foi uma batalha muito difícil, pois dentro da própria Petrobras existia uma resistência. Foi necessária a intervenção pessoal do presidente Lula na época, para fazer com que essa ampliação saísse do papel, em setembro de 2004.
E também teve a famosa greve da Unipar, deflagrada porque a empresa não quis assinar a renovação do acordo da 5ª Turma. No Tribunal, nós fizemos a defesa da 5º turma, explicando que o trabalho no Polo, além de problemas de saúde e estresse, havia o grau de penosidade. A defesa da empresa alegou que o único grau de penosidade que um trabalhador poderia ter na UNIPAR era se ele corresse atrás de galinhas. Aí nos deu a ideia de comprar um caminhão de galinhas e soltar na empresa. Foi uma greve muito tensa, mas por fim conseguimos manter a quinta turma.
O Polo Petroquímico do ABC – foto
Criado em 1972, o Polo Petroquímico é responsável pelo fornecimento de insumos, matérias-primas e produtos estratégicos para todo o setor produtivo brasileiro. Em 2020, o faturamento do Polo Petroquímico foi de R$ 9,5 bilhões. Em relação a empregos diretos e indiretos, o total é de 10 mil postos de trabalho, mantidos mesmo em dois anos de pandemia.
São cerca de 20 empresas nacionais e multinacionais nas áreas química, petroquímica e gás instaladas no local. O Grande ABC representa mais de 10% da indústria química agregada do Brasil e tem importante peso no faturamento de segmentos como produtos de limpeza e afins (49%), tintas e vernizes (56%), transformação de borrachas (34%), fibras sintéticas e artificiais (32%) e higiene pessoal, perfumaria e cosméticos (24%).
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