Economista esteve nesta segunda-feira (15) no Sindicato e falou sobre a conjuntura e os novos desafios para a classe trabalhadora
Nos últimos dez anos o Brasil conseguiu combinar democracia com crescimento econômico e melhora na renda da sua população, fato inédito na sua história. Manter e ampliar essa política depende de alguns elementos internos e externos e de como enfrentar alguns desafios, como as mudanças que estão se dando nas estruturas sociais, no mundo do trabalho e em relação ao papel da educação. Nesse contexto, os sindicatos desempenham um papel estratégico, mas precisam urgentemente atualizar a sua agenda de ações. “O movimento sindical ainda vive como se estivéssemos no século 19”, afirmou o economista Marcio Pochmann, que participou da Direção Colegiada na manhã desta segunda-feira, 15/4, no Sindicato.
A reflexão acima foi detalhada por Pochmann, que destacou três principais elementos para a análise dos rumos do Brasil.
Primeiro, o tipo de crescimento econômico que queremos: com valor agregado, que gera empregos e empregos de qualidade, ou com exportações de bens primários, que impede a geração de empregos.
Em segundo: como o Brasil vai se inserir no atual deslocamento do centro dinâmico do mundo dos EUA para a Ásia, em especial a China: como um pólo de expansão de desenvolvimento, integrando as economias da América Latina e Caribe, ou olhando o movimento de desindustrialização, com deslocamento das indústrias para a Ásia?
Por último, o poder crescente das grandes corporações que, juntas, respondem hoje por 50% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial e interferem em eleições, elegem presidentes,fazem com que os recursos públicos sejam destinados a financiar seus interesses e colocam em xeque a própria democracia. Nesse contexto, “qual é o papel do BNDES? Que tipo de empresa ele vai financiar?”, pergunta o economista.
Somado a esses três elementos, Marcio Pochmann aponta três grandes desafios para a classe trabalhadora, e consequentemente, para a atuação dos sindicatos.
O primeiro é a intensa mudança demográfica no país, na medida em que há uma acentuada queda na taxa de fecundidade e que as pessoas vivem, em média, 82 anos, média que pode subir para 100 anos nas próximas gerações. “Nossas cidades estão despreparadas para conviver com pessoas de mais idade. Vão sobrar pediatras e faltar geriatras. Cresce o número de doenças depressivas e muda a agenda sobre o que planejamos como qualidade de vida”, diz Pochmann.
Como segundo desafio, mas não menos importante, estão as mudanças no mundo do trabalho. “Há hoje uma mudança inigualável do trabalho material para o imaterial, intensificando exacerbadamente a exploração dos trabalhadores. E se há mais trabalho há mais riqueza, riqueza essa que não está sendo distribuída”, afirma, referindo-se à tecnologia e aos trabalhos relacionados à area de prestação de serviços, trabalhos que podem ser feitos em qualquer lugar e a qualquer tempo, usurpando direitos como limite de jornada de trabalho, pagamento de horas extras e destruindo as relações familiares.
“Quando o local de trabalho desaparece, desaparecem também os direitos”, observa Pochmann.
Temos que estudar a vida toda
“Estamos entrando na era do conhecimento e estamos ficando cada vez mais ignorantes, pois não temos a capacidade da visão do todo e vamos ficar reféns daqueles que a têm”, enfatizou Marcio Pochmann ao abordar o terceiro desafio: o papel da educação, destacando que agora é preciso estudar a vida toda.
Para ele, a universidade passou a ser o patamar mínimo e o Brasil não pode destinar somente 5% do PIB à Educação, enquanto empresas como a Petrobrás, por exemplo, gastam milhões para qualificar seus trabalhadores.
“Qual é a agenda do movimento sindical sobre essas questões?”, pergunta Pochmann. “Se não tivermos propostas, com certeza a direita têm e irá apresentá-las”, afirma, reforçando a necessidade do movimento sindical discutir os rumos do Brasil, os rumos da indústria química, no caso do nosso Sindicato, das mudanças no mundo do trabalho.
“Nos últimos anos foram gerados 22 milhões de novos empregados e isso não alterou a taxa de sindicalização. Foi a política que salvou o Brasil, a democracia foi a chave para sairmos da situação em que estávamos e poucos, muitos poucos, se associam e militam em partidos políticos. Alguma coisa está errada”, pondera Pochmann, deixando uma série de reflexões para o público que, atento, acompanhou sua explanação.
Próximo debate
Dando continuidade à programação mensal de debates da Direção Colegiada e militância, no próximo dia 6 de maio, às 9h, estará na sede do Sindicato o ex-assessor do Sindicato e atual professor da UFABC, Giorgio Romano Schutte.
Esses encontros são abertos, assim, quem quiser participar, basta entrar em contato com a secretaria geral do Sindicato, no telefone 4433 5840.