Por José Evandro Alves da Silva
Não parece ser um fato isolado a tentativa de políticos da direita — gente como Hugo Mota, presidente da Câmara dos Deputados, e Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo — de diminuir o poder e o alcance da Polícia Federal. Seria isso uma resposta à Operação Carbono Oculto que, há cerca de um mês e meio, desarticulou o comando do crime organizado em São Paulo sem disparar um único tiro?
O fato é que Hugo Mota e Tarcísio tentaram impor um duro ataque à melhor e mais eficiente Polícia do país ao indicar o secretário de Segurança Pública de São Paulo, um ex-policial expulso da Rota, para desfigurar o projeto de lei do governo federal que amplia a capacidade do Estado de rastrear o dinheiro do crime e chegar aos verdadeiros chefes das quadrilhas — que não vivem em favelas, mas sim em lugares como Miami e Alphaville.
A reação imediata do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, da direção-geral da Polícia Federal, do Ministério Público e, sobretudo, da sociedade civil — nas ruas e nas redes — conseguiu barrar a manobra neste momento. Mas é certo que novas tentativas virão, especialmente para impedir a integração das inteligências da PF e das Polícias Civis com o COAF, que monitora movimentações financeiras, e para minar a independência da Polícia Federal de investigar quem quer que seja, sem interferência política.
Lembram de Bolsonaro humilhando seu então ministro da Justiça, Sergio Moro, por não conseguir interferir nas investigações da Polícia Federal? Parece que esse segue sendo o maior temor da extrema-direita: uma Polícia de Estado, altamente profissionalizada, guiada por leis e protocolos, equipada e supervisionada pelo Judiciário.
José Evandro Alves da Silva é presidente do Sindicato dos Químicos do ABC
