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Químicos da Turquia conhecem Unipar, participam de assembleia e dialogam sobre golpes e ataques à classe trabalhadora

10/07/2018 às 20h59

Lideranças do Sindicato dos Químicos da Turquia (Petrol-Is) estiveram no Brasil de 2 a 7 de julho para mais uma etapa do acordo de cooperação internacional firmado com o Sindicato dos Químicos do ABC em 2010.

Mustafá Mesut Terik, secretário geral de organização; Unal  Akbulut, secretário geral de administração, e Erhan Kaplan, responsável pela Formação Sindical do sindicato turco, participaram de uma assembleia da categoria, visitaram uma grande empresa química e compartilharam de um rico debate sobre crise econômica, ação sindical e a situação de golpe nos dois países. A Turquia viveu uma tentativa de golpe de estado em 2015, derrotada pela resistência popular.

Geopolítica e petróleo

“Se 65% da energia do mundo está no Oriente Médio dá para entender por que os Estados Unidos insistem em interferir nas questões políticas da região. No meu entendimento, por trás dessa sucessão de ataques ao povo brasileiro, à classe trabalhadora, estão os EUA e seus interesses econômicos”, afirmou Mustafa durante os debates com a diretoria do Sindicato, referindo-se à crise político-econômica brasileira e o desmonte da Petrobras e das outras estatais do País.

Mustafá explicou que a Turquia, por sua localização geográfica, está no meio de muitas guerras e portanto tem milhões de refugiados vivendo entre as fronteiras e nas grandes cidades do país. Na sua opinião, os Estados Unidos não têm condições de abrir uma guerra direta com a Turquia, como fez no Iraque, Irá e no Afeganistão, por exemplo, mas usam de outras formas para interferir nas questões política do país.

“Os EUA atuam na Turquia por meio de um líder religioso, o Fethullah Gülen, que vive nos Estados Unidos, e através do Tratado do Atlântico Norte (OTAN/NATO). Eles tentaram dar um golpe de estado em julho de 2016, que foi impedido pela resistência popular, e resultou em 500 pessoas assassinadas”, disse. “Naquela noite usaram 40 aviões de ataque, centenas de tanques atirando abertamente em civis que tentavam resistir e hoje esses golpistas estão todos na prisão”, prosseguiu.

O tamanho do impacto dessa situação: economia despencou, empregos diminuíram, sindicatos foram reduzidos, empresas decidiram sair do país e os imigrantes tornaram-se farta mão de obra barata para as empresas que ficaram. “Tudo está muito difícil, mas apesar disso, o Petrol-Is vem aumentando bem sua sindicalização”, comentou, creditando o resultado positivo à ação sindical em defesa dos direitos dos trabalhadores químicos turcos.

Unal  Akbulu explicou à diretoria como são realizados as cerca de 100 Convenções Coletivas de Trabalho que o Petrol-is negocia por ano. Na Turquia, cada empresa tem sua própria Convenção Coletiva, mas para isso, precisa ter 50% mais 1 trabalhadores sindicalizados. Se houver uma ou mais filiais, essa proporção cai para 40%. “Algumas vezes, uma convenção protege 50 trabalhadores e outra 4.500 trabalhadores, vai depender do tamanho da empresa”, pontuou.

Após uma breve apresentação da história do nosso Sindicato, que completará 80 anos em outubro, o presidente Raimundo Suzart explicou aos sindicalistas turcos as negociações das convenções coletivas do Setor Químico e Farmacêutico e as mudanças na legislação com a Reforma Trabalhista, que acabou com a ultratividade, liberou a terceirização e aumentou a precarização e a informalidade no mercado de trabalho.

“Com exceção do que será acordado ano a ano nas Convenções Coletivas de Trabalho, os trabalhadores não têm mais garantias. Muitos dos avanços e conquistas que a classe trabalhadora obteve nos governos Lula/Dilma foram destruídos. Com Temer não há dialogo, representantes dos trabalhadores e os movimentos sociais não são ouvidos, só os patrões”, destacou Raimundo.

Solidariedade contra demissões na AFA e na Flormar/Yves Rocher

A delegação turca teve a oportunidade de participar da assembleia e manifestar sua solidariedade à luta dos trabalhadores e trabalhadoras da AFA, que estavam reunidos na sede de Santo André durante uma das atividades do intercâmbio.

A AFA Plástico, localizada em São Caetano, demitiu 70 trabalhadores(as) e em negociação com o Sindicato afirmou que fará livre negociação para pagar as verbas rescisórias, o que é inaceitável. Por esse motivo o Sindicato está entrando com ação coletiva contra a empresa, já que se trata de demissão em massa.

“Na Turquia, neste momento, temos o mesmo tipo de luta: 125 trabalhadoras estão há mais de 50 dias em piquete na porta da empresa Flormar/Yves Rocher em luta para receberem as verbas rescisórias. O capitalismo é assim no mundo todo. Nos momentos de crise, transferem toda a carga para os trabalhadores”, disse Mustafá à assembleia. “A despeito da diferença de idiomas, a classe trabalhadora é uma só e saúdo todos vocês em nome dos trabalhadores químicos turcos”.

Os dirigentes brasileiros também enviaram sua solidariedade às trabalhadoras químicas da Turquia. Fotos das diretoras do Sindicato com frases de apoio à luta contra as demissões serão enviadas às mulheres que estão nos piquetes na Flormar/Yves Rocher.

Ramo Químico, Unipar e Embu das Artes

Durante a semana que ficaram no ABC, os sindicalistas da Turquia conheceram a sede das entidades do ramo químico da CUT, no centro da capital: a Confederação Nacional do Ramo Químico da CUT (CNQ) e da Federação de Trabalhadores do Ramo Químico no Estado de São Paulo (Fetquim).

Também visitaram a Unipar Carbocloro (antiga Solvay), em Paranapiacaba, onde foram recebidos por representantes do RH e da direção da empresa.

Na véspera da volta à Turquia, dirigentes do Sindicato levaram à delegação para Embu das Artes, cidade próxima à capital conhecida pelo rico artesanato.

Pioneirismo Sul-Sul

Esse tipo de cooperação técnica – originalmente proposta pelo Sindicato dos Químicos do ABC – está entre as primeiras do gênero no sindicalismo brasileiro e do mundo, por envolver duas organizações de trabalhadores de países em desenvolvimento e de continentes e culturas tão distintas.

Petrol-Is é um sindicato nacional, que representa trabalhadores dos setores petróleo, gás, químico, borracha, farmacêutica, peças automotivas, fertilizantes e explosivos. Tem 16 sub-regionais, localizadas nas principais cidades turcas. A entidade foi criada há 68 anos, em 1950, e hoje tem 32 mil associados (cerca de 15% da base) e organizado em 100 empresas. No ramo químico da Turquia há outro sindical nacional, o do setor plástico, com 10 mil associados.

O que motivou essa parceria foi a semelhança entre os dois países em diversos aspectos como o perfil da indústria e da categoria química, as condições de trabalho e a disposição de luta para enfrentar as dificuldades.

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