Fotos: Cadu Bazilevski
A Escola Politécnica (Poli) da USP realizou na sexta-feira, 28 de março de 2025, a cerimônia de diplomação honorífica de seus estudantes mortos pela ditadura militar.
O evento foi realizado no Auditório Prof. Francisco Romeu Landi, no prédio da Administração da Poli.
Na cerimônia foram homenageados quatro estudantes da instituição pelo posicionamento de resistência que assumiram diante da ditadura civil-militar instalada com o golpe de 1964 e que se sustentou no comando do país por 21 anos. Entre os quatro homenageados, está o trabalhador químico Olavo Hanssen, que foi associado ao nosso Sindicato e dá nome a nossa Colônia de Férias, em Caraguatatuba, como marco à sua trajetória de luta em defesa da classe trabalhadora.
O secretário geral e de imprensa do Sindicato, Paulo José dos Santos (Paulão), entre outros diretores do Sindicato, compareceram à cerimônia representando a categoria química do ABC.
Além da cerimônia de diplomação, foi realizada uma exposição e uma roda de conversa antes do evento.
A organização do evento ficou sob responsabilidade da Comissão de Inclusão e Pertencimento da Escola Politécnica da USP, representada pela sua Presidente: Prof. Dr. Anarosa Alves Franco Brandão e pelo Vice-Presidente: Prof. Dr. Cleyton de Carvalho Carneiro.
Homenageados
Além de Olavo Hanssen, foram homenageados Lauriberto José Reyes, Manoel José Nunes Mendes de Abreu e Luiz Fogaça Balboni.
Hanssen, conhecido como Totó, filiou-se ao Partido Operário Revolucionário Trotskista (Port) e foi morto em 1970. Durante a ditadura, foi perseguido em várias oportunidades, em virtude de seu posicionamento político-ideológico.
No princípio da cerimônia na Poli, a organização exibiu um vídeo em que familiares das quatro vítimas contam um pouco sobre elas.
Depoimento de Alice Hanssen da Silva, irmã de Olavo, que o representou na diplomação:
A gente tem que se dar por satisfeito por ter conseguido resgatar o corpo, porque teve tanta gente que não conseguiu resgatar seus mortos
“Olavo sempre foi muito responsável e muito jovem ele já tinha assim uma ideia de que precisava fazer alguma coisa para melhorar a vida daqueles mais necessitados. Em 1964 ele foi preso, aí eu já tinha 15 anos e já começava a entender mais as coisas mesmo sem muita explicação. Eu sei que ele foi preso, ficou um tempo preso, depois saiu e arranjou emprego na IAP, uma empresa química, acho que em Santo André, e aí ele se filiou no Sindicato dos Químicos. E na IAP ele trabalhou até o dia 30 de abril de 1970, quando foi preso no dia primeiro de maio e foi assassinado. Eu me lembro até hoje, foi exatamente na missa de sétimo dia, eu olhei para o meu pai e levei um susto, ele havia envelhecido dez anos em uma semana… é muito difícil”, disse.
Ao final, deixa um conselho para os mais jovens, aqueles “que ainda participam, que ainda lutam: precisamos estar sempre atentos porque a nossa democracia é muito frágil e ela precisa ser cuidada”.
Diplomação da Resistência
O projeto Diplomação da Resistência foi uma das formas eleitas pela USP para reconhecer a coragem e o protagonismo de alunos e funcionários técnico administrativos e do corpo docente que se ergueram contra as arbitrariedades cometidas pelos agentes do Estado no período da ditadura militar.
Ao todo, estão contemplados 31 estudantes na ação, promovida com a participação da Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento.
A Comissão Nacional da Verdade, que produziu um dos documentos primordiais sobre a ditadura de 1964, registra que, das 434 pessoas mortas ou desaparecidas durante o período, 47 pertenciam à comunidade da USP.
O reitor Luís Antônio da Gama e Silva, da Faculdade de Direito, foi quem redigiu e anunciou o Ato Institucional nº 5 (AI-5), que determinou o fechamento do Congresso Nacional e facilitou violações de direitos.
Com informações do Jornal da USP e Agência Brasil
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Colônia de Férias Olavo Hanssen
A Colônia de Férias de Caraguatatuba leva o nome de Olavo Hanssen em homenagem ao militante. Acompanhe abaixo a homenagem realizada pelo Sindicato dos Químicos do ABC em reconhecimento à sua trajetória de luta.