Recordamos que moção aprovada por unanimidade no 13º Congresso dos Químicos do ABC pedia a saída do ministro
Na tarde desta quarta-feira, 23, o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles foi exonerado do cargo, a pedido, de acordo com edição extra do Diário Oficial da União.
Salles é alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por supostamente ter atrapalhado investigações sobre a maior apreensão de madeira da história e suspeita de facilitar a exportação ilegal de madeira da Amazônia. Em São Paulo, o Ministério Público conseguiu a quebra de sigilo financeiro de Salles em uma apuração sobre enriquecimento ilícito.
As repercussões foram imediatas e ao site da Folha de São Paulo, o delegado da Política Federal Alexandre Saraiva comemorou: “Eu avisei que a boiada não iria passar”, em alusão à frase do ex-ministro na fatídica reunião ministerial de maio de 2020.
A categoria química do ABC nunca acreditou nas “boas intenções” de Salles. No 13º Congresso do Sindicato, realizado em novembro de 2019, foi aprovada por unanimidade moção “Pela demissão do Ministro do Meio-Ambiente do Governo Bolsonaro”.
Defensor do agronegócio, de garimpeiros e mineradoras
No texto, os delegados e delegadas ao evento já apontavam o despreparo e incompetência de Salles para o exercício do cargo, destacando que ele se expressava “como um defensor do agronegócio e de garimpeiros e mineradoras, do que do meio ambiente e da biodiversidade propriamente ditas, que constituem assuntos de sua responsabilidade”.
Naquela época, há apenas 11 meses no cargo, Salles já se comportava mais como “um agente dos interesses privados exploratórios e violentadores dos bens e recursos naturais do povo brasileiro, do que como a autoridade máxima constitucional responsável pela sua defesa e promoção”, por isso, concluía a moção, era pedida a “DEMISSAO IMEDIATA desse falso ministro do meio ambiente”.
Declaração Internacional
Em 11 de junho passado, federações globais, centrais sindicais e sindicatos divulgaram declaração clamando pela proteção à Floresta Amazônica e ao trabalho decente. As entidades signatárias também invocam o governo brasileiro a mudar urgentemente suas políticas ambientais e reativar sistemas de vigilância florestal e atividade econômica sustentável.
A iniciativa partiu da Internacional dos Trabalhadores da Construção e Madeira (ICM) e suas afiliadas, que buscam impulsionar uma “Rede Sindical de Solidariedade com a Amazônia” para organizar ações de solidariedade internacional para proteger a floresta amazônica do Brasil e garantir um trabalho decente na área.
Os sindicatos locais apontam que desde o início do governo Bolsonaro em 2019, a Amazônia sofreu com o aumento dos incêndios e extração ilegal de madeira e há um aumento acentuado nos casos de violência contra a população indígena local, sindicalistas, camponeses e ambientalistas.
A declaração foi assinada pela ICM em conjunto com as Centrais Sindicais Brasileiras CUT, NCST, UGT, a Associação Internacional de Operários Aeroespaciais e Operários (IAMAW) e o Sindicato Sueco dos Trabalhadores Florestais, Madeira e Gráficos (GS).
Novo ministro é ruralista
No mesmo decreto que demitiu Salles, o governo nomeiou como novo ministro do Meio Ambiente Joaquim Álvaro Pereira Leite, que por mais de duas décadas foi conselheiro da Sociedade Rural Brasileira e já comandou a Secretaria da Amazônia e Serviços Ambientais da pasta.
#ForaBolsonaro
Para o presidente do Sindicato, Raimundo Suzart (foto), a notícia é muito bem-vinda. “Nos dá um respiro diante de tanta negligência e descaso, mas não tenhamos ilusão, o fim desse inferno pelo qual a floresta, as populações indígenas e as comunidades rurais estão passando só será possível com o fim do atual governo”, disse.
O secretário do Meio Ambiente da CUT, Daniel Gaio, concorda. “Mesmo com a queda, ou fuga, de Salles, o ruralismo desmatador, apoiador de Bolsonaro, segue à frente do ministério que seguirá operando esquemas de destruição ambiental e perseguições a servidores e defensores do meio ambiente. A saída é ‘Fora, Bolsonaro’ e toda essa quadrilha genocida”, afirmou.
Fotos: Lula Marques/Fotos Públicas